Segunda feira, 1 de Dezembro. Jantar muy temprano, pelas 19h15 - à sueca - , na sequência da feitura da mochila para a Lapónia. Lavo a loiça, despeço-me do Romain e do Côme, outro francês que tinha dado um salto cá a casa, pego na mochila e fico um bocado apreensivo com o peso dela - era menina para pesar aí os seus 12 quilos. Não porque fosse levá-la num avião, mas porque se há coisa que aprendi a gostar e a fazer aqui na Finlândia, é viajar leve.
Encontro-me com o Wybren (holandês) e um dos Florians, o ruivo, na praça e metemo-nos a caminho do metro. Lá encontramos uma catrefada de raparigas que também vêm nesta viagem. Goza-se com o tamanho da mochila da Cynthia, que era quase do tamanho dela, e com a qual às costas ela não consegue levantar-se se estiver sentada. Aqui não se vêem as malas de toda a gente, mas praticamente todos levaram a sua mala grande e todos ficaram espantados como é que eu conseguia levar tudo numa mochila tão pequena.
(da esquerda para a direita: Marie e Jasmin, alemãs, Charlotte, francesa, Majda, marroquina radicada em França, eu, com o meu overall até à cintura, Florian, Wybren, François, francês e no chão a pequena Cynthia)
Pelas 21h encontrámos em Rautatientori (Järnvägstorget, Central Railway Station, Praça dos Caminhos de Ferro) o Walther, austríaco e a Mickaela, eslovaca a viver em Viena, a Stella, italiana, o Maciek, polaco, a Jutta e a Yvonne, as tutoras que vieram connosco. O engraçado é que para além de nós, hankeits, só mais 3 raparigas espanholas vieram nesta viagem de Helsinki. Aparentemente, estavam de férias e a visitar a irmã de uma delas que estuda cá mas como a dita irmã estava em exames, aproveitaram para viajar um bocado. Quantos mais melhor!
Viagem sem história até Tampere, onde apanhámos mais três raparigas que tinham viajado até lá de Turku, duas eslovacas e uma belga, perfazendo um simpático grupo de 25 pessoas, das quais éramos 6 rapazes! Viagem por essa noite fora, muito mal dormida, até chegarmos, pelas 9h a Ranua, onde tomámos o pequeno almoço num hotel e partimos para o Jardim Zoológico de Ranua, o mais setentrional do mundo.
Perante a grande escolha de actividades a fazer (uma visita ao zoo, andar de trenó puxado a huskies ou a renas ou andar de moto de neve), o grupo separou-se e encontrou-se por aí, eu fiz as duas primeiras. A grande atracção do zoo, que tem imensos animais do Árctico, são os ursos polares, os maiores predadores terrestres.
O único macho do zoo a brincar com um pneu, as fêmeas estavam noutro espaço.
Tamanho real! Estava a usar um overall lá do parque que era emprestado a todos os que fizessem os safaries para proteger do frio. Por acaso, estavam uns agradáveis -3º C...
Depois disto tudo, mais uns 90 km até Rovaniemi e eis-me chegado à capital da Lapónia, agora sim coberta de neve! Fizemos compras para o jantar, comemos no McDonald's mais a Norte do mundo e fomos para as nossas cottages.
As nossas cottages faziam parte do um motel à beira da estrada, à americana, e cercado por uma floresta. Os telhados estavam cobertos de neve e os caminhos também. Coelhos saltitavam alegremente por entre as cottages e eram tão dóceis que vinham comer à mão, bastava chamá-los. A minha cottage, a 24, ficou definida como a Party Cottage, ou mais familiarmente, a E Cottage. Cada uma tinha a sua própria sauna, se bem que a nossa sauna era capaz de ser a única que desse para alojar três pessoas ao mesmo tempo...
Para o jantar, nós, rapazes, fizemos um fogo bem agradável, de lenha, num edifício típicamente lapão: uma casinha redonda e baixa, com o telhado em forma de cone, cujo topo abria-se numa chaminé.
Eu, a supervisionar o fogo.
Enquanto fazíamos o fogo, as raparigas foram à sauna comum do motel. Comemos todos juntos, os hankeits, na própria casinha, onde íamos pondo salsichas e outras carnes e batatas no fogo. Depois do jantar, fomos nós à sauna e elas limparam a casinha. A emancipação é uma estrada de dois sentidos... Desta vez, e com a possibilidade de fazer uma sauna à moda da Lapónia, decidimos sair para o meio da rua e rebolar na neve de cada vez que saíamos da sala. Só para homens!
Depois, foi a vez da festa na minha cottage!
No dia seguinte, acordámos pelas 8h30 e o sol ainda não se tinha levantado. Aliás, só se dignou a fazê-lo decentemente pelas 10h mas não deve ter gostado do que viu pois pelas 15h já era noite cerrada. Estivemos duas horas e meia na vila do Pai Natal. Eu, que já lá tinha estado, só lhe achei piada porque agora estava coberta de neve e tinha um pequeno parque de renas. Depois disso, voltámos a Rovaniemi, onde almoçámos no Rosso (lembra-se, mãe?) e depois partimos para a estância de Ounasvaara para quem quisesse fazer ski ou snowboard.
Lá encontrámos outros alunos de Erasmus da Hanken, que tinham ido noutra viagem e cujas cottages ficavam na base das colinas de Ounasvaara. Como era o início da época de neve, só uma pista estava aberta. Assim, fizemos essa pista vezes e vezes sem conta, mas muito animados e felizes; afinal, estávamos a fazer pistas com amigos quase no Círculo Polar Árctico!
Umas horas depois, regressámos a casa e desta vez as raparigas presentearam-nos com um jantarinho bem agradável na minha cottage. Depois, foi uma noite bem tranquila. Os que quiseram fazer uma festa ficaram por lá, os outros recolheram às cottages deles. Como estava todo destruído, fui jogar cartas com os outros. Tempo ainda, antes de me deitar, para fazermos a nossa própria aurora boreal, visto que durante todo o tempo que estivemos na Lapónia o céu esteve coberto.
No dia a seguir, tempo ainda para visitar rapidamente uma quinta de renas e de nos fazermos à estrada. 12 horas sempre a aviar cartucho: uma pessoa só se apercebe que Rovaniemi é assim tão longe quando vai de comboio ou de autocarro, de avião não vale... É que Rovaniemi fica 5 km a Sul do Circulo Polar, o que significa que está mais a Norte que o Alaska, a Islândia e grande parte do Canadá... Estiveste em Ushuaia, a cidade mais a Sul do mundo, Manel? Não faz mal, eu estive a maior latitude!
Chegados a Helsinki, pelas 22h30, foi só tem
po de nos metermos no metro até casa, descarregar as mochilas e cair na cama para só acordar bem tarde no dia seguinte.
Dia preguiçoso: acordei tardíssimo, almocei tardíssimo, comprei uns cartões de Natal para escrever para Portugal, fiz uma composição para Sueco (sobre uma festa típica do nosso país: escrevi sobre os Santos Populares). Quando acabei, ligaram-me para me desafiar a ir patinar no gelo e jogar hóquei no gelo. Como é óbvio, e apesar de nunca ter patinado na vida, aceitei. Fomos então até ao ringue em Kallio, que fica perto da estação de Sornäinen / Sornäs, onde ficámos horas e horas. Saímos de lá quando já estava fechado! Enfim...

A fazermos uns passes antes de jogarmos.

(da esquerda para a direita: Wybren, Johan, sueco, e eu)
Concluiu-se assim a semana do frio, marcada por viagens, frio, neve, gelo, diversão, escuridão... enfim, a Finlândia!