26.9.08

[Ventos de Nordeste] Finlândia, um mês depois


Jean Sibelius - Finlandia

Passado um mês que cheguei cá, posso fazer um balanço destes primeiros 31 dias pela terra do Nordeste (ou Norte, para eles).

As coisas más:

1. A distância da minha casa ao centro de Helsinki: todos os dias, demoro pelo menos meia hora a chegar à faculdade. Começa a cansar... Até porque se formos sair à noite, ou voltamos pela uma e meia no último autocarro ou esperamos ao frio pelo primeiro metro.

2. O tempo: apesar desta semana ter estado muito sol e algum calor, não apaga o facto do frio que se insinua a cada dia que passa. Não que não soubesse no que me vinha meter, é só porque é irritante. E eu até gosto de frio...

As coisas boas:

1. O país em si: não há palavras para descrever a beleza que nos invade assim que saímos de Helsinki. Têm que vir cá ver com os vossos próprios olhos.

2. Tudo funciona (ou quase tudo): há sempre soluções para quaisquer problemas, basta ter paciência e confiança. As pessoas confiam todas que os outros vão respeitar a lei, a propriedade e a ordem. E isso acontece.

3. Os amigos: sejam eles estudantes Erasmus ou lá da Hanken, posso dizer que já fiz grandes amigos aqui.

4. A falta de saudades (asfixiantes) da família, dos amigos, de Lisboa, de Portugal... Claro que sinto a falta, mas não ao ponto de ser impeditivo de me divertir.

5. As viagens: está tudo aqui tão perto, que é criminoso não viajar. Tallinn, Estocolmo, São Petersburgo são alguns exemplos, mas na Finlândia e perto de Helsinki temos Porvoo, Tampere, Turku e um bocadinho mais longe Rovaniemi, na Lapónia.

Com mais coisas boas que más (e que as suplantam facilmente), obviamente que faço um balanço positivo da minha estadia cá. Daqui a um mês vamos lá ver se continua assim.

P.S. : A composição para orquestra que seleccionei como música para este post, é a obra Finlandia, Op. 26 (obrigado Nana, por me teres mostrado isto em Sousel - há tanto tempo, já...), de Jean Sibelius, o mais famoso compositor finlandês. Esta peça é considerada por muitos como a música que serviu de combustível para o movimento de resistência finlandesa durante a ocupação russa no Século XIX. Os últimos três minutos são indiscritivelmente belos. Todo este poema sinfónico é inspirador e arrepia. Como a própria Finlândia.

25.9.08

[Ventos de Nordeste] Parar. Recomeçar


Talvez sejam as 13 horas dormidas nas últimas 72. Talvez seja o stress de entregar mais um paper na 2ª feira e outro na próxima 6ª. Talvez seja porque os meus cartões bancários hoje se rebelaram contra mim e não me deixam levantar dinheiro. Talvez seja o facto de ter tido uma aula de economia misturada com estatística às 8h30. Talvez, até, seja a proximidade de um Sporting - Benfica.

Mas a verdade é que hoje tenho que dormir a tarde toda. E nem coragem tenho de ir ter com os que foram estudar para a praia.

18.9.08

[Ventos de Nordeste] Meandros e momentos finlandeses


Natural Calamity - Dark Water & Stars

Se há coisa que os Finlandeses gostam (para além de sauna, Natureza, falar sobre o tempo, telemóveis, hoquéi no gelo e beber muito álcool), é das suas cottages. Pequenas casas nos infindáveis bosques normalmente situadas junto de um lago ou mar, para onde quase todos se escapam com a família quando chega o fim de semana. Ora, o Exchange Committee que tão bem nos tem tratado, decidiu que essa seria uma das actividades finlandesas que nós não podíamos perder. Fomos todos então, no sábado de manhã para uma cottage perto de Porvoo / Borgå (lê-se Borgo - como em burgo, cidade), pequena cidade medieval 50 km a leste de Helsinki. 


Lá, fizemos alguns jogos antes de almoço (para encher chouriço), incluíndo um engracadíssimo: um jogo de futebol, onde todos os jogadores tinham que ter a visão tolhida por dois rolos de cartão, como se fossem binóculos. Como podem ver pela fotografia, eu estava em grande forma, e até estava a salvar um golo em cima da linha. Depois ainda fui a tempo de marcar um golo na segunda parte, o que nos garantiu uma vitória por 5-3! Grande futebolada, para abrir o apetite...


Depois de almoco, explorámos um bocado (cada um por si ou em pequenos grupos) a floresta e a costa, já que não estava nada programado para a tarde. Mas todos fomos derivando para a "praia" e a plataforma que servia de doca e prancha de mergulhos, onde aproveitámos um sol de Verão pouco comum por estes dias e preguiçámos a tarde toda.



Ao jantar, mais um sitz, tradicão sueca: muita comida, muita bebida e muita cantoria. Enfim, muita diversão. Após isto, a verdadeira tradicão finlandesa: a sauna! As raparigas foram primeiro, das 22h00 às 23h30, para depois ser o turno dos rapazes, entre as 23h45 e a uma. Nada mais revigorante que estar a suar que nem uma baleia num ambiente de 80 graus para depois ir dar um mergulho rápido ao mar - a temperatura do ar era algo como 5 graus e a água estava a 10-12 graus. E, como é óbvio, os verdadeiros finlandeses fazem isso nus, portanto também nós o fizemos!

Depois disto, continuou a animacão com uma discoteca improvisada para os mais resistentes - a esta hora uns quantos já tinham pendurado as botas. E só mesmo para os que continuaram uma prestação de altíssimo nível, sauna depois da festa. Sim, sauna às 3h30 da manhã. Escusado será dizer que no dia a seguir, ao pequeno almoço (e sim, tio, só dormimos umas 5 horas), todos estavam totalmente ensonados ou totalmente constipados. Eu não me inseria em nenhuma das categorias porque, bem... não sei porquê. Parece que os Portugueses são de têmpera rija. Depois do pequeno almoço e das arrrumações, voltámos para Helsinki e para casa.

Bush - Warm Machine

Para não acharem que eu ando aqui só na boa vida (não que não seja verdade - a boa vida, isto é), esta semana entreguei um paper para a cadeira de International Business. Tinha que analisar o caso de uma companhia finlandesa, a Lumene, que exporta cosméticos para a Rússia e Estados Unidos e depois ainda tive que fazer a discussão do caso num seminário. Trabalho muito exigente por uns dias, depois tem sido business as usual.

Ao mesmo tempo, temos tido muitos aniversários: a Linda, letã na terça passada, o Romain, meu room-mate e um dos meus melhores amigos nessa quinta feira e um dos Florians (alemães), o de barba, logo na sexta a seguir. Esta semana, foi a vez da Emiline, francesa, também na terça. Muitas razões para festejarmos!

Josh Radin - Winter

Frio, muito frio. Em Setembro, o que não é normal para ninguém que não os Nórdicos. Noutro dia chegou ao ponto de estarem 3 graus em Helsinki a meio da tarde. Enfim... Toda a gente continua a dizer que este foi um Verão muito frio e as opiniões dividem-se: se vamos ter um Inverno suave ou rigoroso. Há quem diga que em Outubro vai comecar a nevar em Rovaniemi e ainda antes de Novembro em Helsinki. Há quem afirme, por outro lado, que não neva aqui antes de Dezembro. Independentemente disso, sei que a partir do fim de Novembro os dias vão ter 4 horas, portanto se neva ou não, acaba por se tornar irrelevante...

Adriana Partipim - Fico Assim Sem Você

Bebés: geralmente uma coisa engracada de se ver, aqui ainda mais. E explico porquê. Aqui, as criancas são como os adultos, loiros, grandes e calados. Até agora, e sem contar com os bebés filhos dos imigrantes, todos os bebés que vi eram grandes, gordos e loiros e bastante sossegados nas suas cadeirinhas que mais parecem tanques. As cadeiras aqui são cobertas por um tecido impermeável (para não deixar entrar a chuva) e reforcadas com mantas (para não deixar entrar o frio). Já a salvo dos elementos, os bebés podem então descansar e dormir ou então brincar nas suas mesas de actividades - sim, as cadeiras têm mesas de actividades. É normal ver um bebé a brincar com o biberão cheio de leite (claro) ou com outra coisa qualquer na mesinha que passa por cima dos seus joelhos. Algumas até têm um volante... Agora entendo o porquê da Finlândia ter tantos pilotos famosos (Tommi Mäkinen, Juha Kankkunen, Mika Häkkinen, Kimmi Räikkönen, ...).

Ah, e não é possível andar de metro sem se verem pelo menos uns 3 bebés. Alguns casais até andam com dois ao mesmo tempo: um com um ano de idade e outro aí com uns 3 meses. Bastante diferente do que se passa em Portugal, infelizmente. E sim, isto é uma pequena indirecta às saudades que tenho da Ticas...

The Solids - Hey Beautiful

Séries, o melhor amigo do estudante erasmus. Porque, apesar das festas, apesar das aulas, apesar das conversas no skype com amigos e família, apesar das futeboladas e ginásio, há sempre horas para matar. E as séries que mais tenho visto (ou melhor, as únicas que tenho visto, até porque ainda só descarreguei estas) foram a grande favorita aqui de todos, How I Met Your Mother, mas também Pushing Daisies, Supernatural e The Lost Room, que só tinha visto um episódio em Lisboa antes de vir, mas chamou-me à atencão. Boas horas em frente do Mac no meu quarto, a salvo do frio e chuva que lá fora assolam o bairro de Harustie.

11.9.08

[Ventos de Nordeste] - Apontamentos e Considerações

Bloc Party - Flux


3 apontamentos:

1. Se eu andar na rua a uma determinada hora (digamos, às 11h15) como ontem, na Runeberginkatu (a que liga a estação de Kampi à Hanken), posso parecer alto. E explico as minhas razões para pensar assim: a essa hora, todos as crianças estão nas aulas; todos os jovens adultos estão ou nas aulas da faculdade ou no emprego. Então, quem anda na rua a essas horas são, principalmente, os idosos (que são baixos para a média finlandesa ou que já começaram a minguar) e os turistas, que não são nórdicos. Assim, é possível para mim, que já sou baixo para os padrões portugueses, parecer alto na Finlândia.

2. Continuando na senda da altura: os funcionários da cantina da Hanken, onde tenho almoçado todos os dias por 2,20€, devem achar que eu ou estou em crescimento ou então estou sub-nutrido. E é por isso que dia após dia continuam a servir-me doses industriais de strogonoff de porco, fatias gigantes de pizza, quilos de massa e litros de sopa. Para que eu cresça mais um bocado, se calhar. Só se for para os lados... (não se preocupe mãe, também como sempre um prato de salada)

3. Os ginásios universitários de Helsinki funcionam muito bem. Por apenas 40€ tenho três meses de acesso a quaisquer instalações. Costumo ir ao da Administration Building, que fica na cave do edifício dos serviços administrativos da Helsingin Yliopisto (Universidade de Helsínquia ou Helsingfors Universitet). Depois de exercícios nas máquinas, vou à sauna e costumo fazer o mini-ciclo: 5 minutos, duche de água fria, 3 vezes. O ciclo normal são 15 minutos.


2 considerações:

1. Receber encomendas de casa é óptimo. Não só se tem a satisfação de chegar a casa e ver o que veio (camisolas de , bolachas e um impermeável na primeira remessa, a título de exemplo), mas ainda a de se andar na rua com pacotes e ver os olhares de inveja das outras pessoas. Enfim, um Natal mais cedo.

2. Lavar a roupa, o grande papão dos alunos Erasmus daqui. Mas, mal ou bem, lá consegui fazer duas máquinas: uma de roupa escura e outra de roupa clara. E saiu bem, claro.

7.9.08

[Ventos de Nordeste] - Primeira semana, primeiros passos fora do ninho



O bloco 7 de Harustie é habitado principalmente por estudantes, a maioria dos quais de Erasmus (e onde cerca de 85% dos estudantes de Erasmus da Hanken estão), imigrantes e idosos. É, claramente, um bairro de gente sem grandes possibilidades como se consegue ver pela total ociosidade dos jovens locais, que a seguir às aulas ficam no largo a falar, andar de bicicleta e fumar. Apesar disso, é a nossa casa agora e ainda todos nos estamos a ajustar. Desde a
sauna que não aparece aos caixotes de lixo que permanecem incógnitos, aos encontros para ir para a Hanken ou a Helsinki no meio dos jardins com outros “Hankeits” (como somos chamados – estudantes da Hanken) ao já mítico prédio E, onde foram as House Parties até agora e onde provavelmente serão sempre.


Continuando a sequência dos acontecimentos do post anterior, lá fomos para a festa. Como ainda era o segundo dia, as pessoas mantinham-se em grupos com aqueles que já conheciam. Ao fim de algum tempo, começa-se a falar na hipótese de ir sair a Helsinki, a uma discoteca que aparentemente é muito boa. Céptico, começo por dizer que estou cansado e ainda não arrumei as coisas todas; além disso, amanhã temos que estar às 9h30 na Hanken... Aparece então a Johanna (a minha tutora) que me convence a mim, ao Alex e ao Erick (também alemão). Lembro-me então que não tinha trazido a máquina fotográfica! Enfim... Vamos todos então com ela e outra tutora (não me lembro do nome). Chegados à discoteca, entre Kampi e a Central Railway Station (nome em finlandês e sueco), estamos na fila enquanto 4 rapazes atrás do Erick (que mede 1,90m) conseguem ser mais altos que o alemão, cada um devia medir uns 2,05m – sem exagero. À entrada, a primeira vez (de provavelmente muitas) que me perguntam a idade. O curioso é que o segurança me perguntou em finlandês. Respondo sem hesitações: “I’m 21 years old.”ao que o segurança me pede desculpa e diz para entrar. Lá dentro encontramos mais estudantes da Hanken – umas raparigas belgas e francesas – e mais tutores. Fazemos a festa entre nós, mas só até às 1h30, porque a essa hora temos que ir apanhar o último autocarro que sai na Estação de Comboios antes das 2h00, a hora a partir da qual temos que pagar a tarifa nocturna. O nosso travel card é bom, mas não é assim tanto...

The Strokes – Red Light

No dia seguinte tento ligar-me à internet na Hanken e consigo – ainda que parcialmente e só durante uns 20 minutos. Disseram-me que a rede wireless está com alguns problemas porque estão a mudar os routers. Quer dizer, país de alta tecnologia mas se calhar nem tanto... Aproveito essa tarde então para começar a tirar fotografias e explorar um pouco a cidade. A andar sozinho por Helsinki, de auscultadores nos ouvidos, mochila às costas, confundo-me com os seus habitantes – estou mesmo cá. Começo a aperceber-me que isto afinal não é uma viagem com amigos, como as da neve ou a de finalistas. Não somos um grupo de jovens a brincar às casas nem aos turistas: somos estudantes de intercâmbio. Com a confiança renovada que tudo vai correr bem, continuo a andar por aí...


Na sexta-feira fazemos uma excursão de autocarro por Helsinki na
Helsinki Expert. Aí estava já embrenhado no grupo dos mexicanos e dos espanhóis, onde conheci o Fernando, o Mendi, a Irene e a Olga (todos do país nosso vizinho) e o Josué, a Estefania e a Lulu (Lourdes) e o Rodrigo, estes do México. Quando a nossa guia diz que também havia feito Erasmus, em Portugal, foi a festa no autocarro no nosso grupo, pois sou o único estudante de Portugal na Hanken. Aproveito para falar com ela português, língua longínqua já... Depois da visita, vamos todos comer uma espécie de donut com creme (de chocolate, de alcaçuz, de ovos...) em cima (rói-te de inveja, Homer Simpson) e depois seguimos todos para casa. Estava-se a planear uma saída à noite, mas não fui porque não ouvi o Rodrigo (que mora no apartamento ao lado do meu) a bater à porta. Enfim...


All India Radio – Far Away

Sábado, dia 30. Vamos com os tutors e quase todos os estudantes de Erasmus da Hanken de ferry para
Suomenlinna, uma fortaleza marítima numa ilha, onde fazemos um pic-nic e uns jogos de team-building. Antes de nos dirigirmos ao local onde vamos passar a tarde, paramos numa espécie de mini-mercado, onde o Otto (um dos tutores) nos aconselha a comprar bebidas, sejam elas alcoólicas ou não alcoólicas. “Muito responsável”, diz o Manel quando lhe conto isto. Começamos então todos a conhecermo-nos melhor, o que serve para quebrar o gelo e um bocado os grupos: até agora os alemães mantinham-se juntos, como os francófonos (franceses, canadianos e belgas) e em certa medida os que falam espanhol (eu incluído ☺). 


Nessa noite, há mais uma House Party (outra vez no ‘Party building’, o E) e depois vamos todos sair para o Club KY, uma discoteca muito em voga em Helsinki. Como nos pedem 7€ à entrada, eu, o Rodrigo e o Rafa (outro mexicano) desistimos de ir (até porque o último autocarro é às 2h e a discoteca fecha às 3h30 e isto eram umas 1h40) e decidimos ir comer um kebab. Pedimos para levar e ainda vamos a correr mas já não conseguimos apanhar o autocarro. Resignamo-nos a pagar 4 euros e sentamo-nos, desconsolados. Mas nem tudo é mau, pois encontramos a Riikka, finlandesa que esteve 3 anos em Portugal a estudar (em Lisboa e Braga) com o marido (também finlandês) e que estava muito contente por falar comigo em português. Deu-me o número dela e disse para eu lhe ligar, para um café ou algo do género. Simpáticos, ambos. Saímos na estação em frente à bomba de gasolina e despedimo-nos do Rafa que mora no prédio E. Eu e o Rodrigo comemos o nosso kebab (bem grande e picante – mas a ele não lhe sabe...) em casa dele e depois vou para minha casa dormir e recarregar baterias.

Sublime – Santeria

Domingo, dia de descanso e de compras. Vou ao Lidl em Itakeskus e depois ao SMarket em frente a casa. Quando estou no metro, de volta, e perante o cansaço, os olhos pesam e começam a fechar-se. E, numa passagem por cima de uma baía com o mar à minha volta, as saudades começam a aparecer e os pensamentos fogem para as pessoas que ficaram em Lisboa e Portugal. E depois para o que se passou entre o pequeno Goga que, no 5º ano, chegava a casa depois das aulas e lanchava e fazia os trabalhos de casa para brincar o resto da tarde toda. Ou o já mais crescidinho que esperava pacientemente no 8º ano pelo fim das aulas para às terças e quintas ter treinos de futebol no
Colégio e às quartas e sextas rugby no CDUL. E o Goga homenzinho do 11º que já tinha a vida toda planeada. E ao, já na faculdade, Diogo que arrancou para um semestre apostado em ser homem e trabalhar que nem um animal e fê-lo porque era a coisa acertada a fazer. E ao Diogo Maria, que no jantar de aniversário de 21 anos, encantou a família com um discurso que “emocionou a Avó”. Todas essas minhas encarnações conduziram-me aqui, a Helsinki, ao Nordeste. Daqui a uns anos, olharei para trás e verei esta fase da minha vida como decisiva, mas não exclusiva, para chegar onde quer que esteja na altura.

Bush – The Chemicals Between Us


2ª, 3ª e 4ª: aulas e outras coisas. Nada muito a dizer, apenas que esta não é a
rentrée habitual: frio, mau tempo, aulas logo a abrir Setembro e sem os amigos do costume. Difícil, mas não impossível. Entretanto, já com um telemóvel finlandês (um... Samsung B100 e não um Nokia, ao contrário do que seria de esperar...), aproveito para matar saudades da família (as chamadas e as mensagens são muito mais baratas!) e começar a desenvolver a rede de contactos aqui com os estudantes de Erasmus mas também com os nativos. Aproveito também para tirar fotografias a tudo o que surge como prova à família de que eu estou cá, respiro este ar, bebo todas estas experiências, rio-me, faço amigos, aprendo novas coisas, enfim, cresço.


2.9.08

[Ventos de Nordeste] - O começo de uma aventura, ou Crónica de uma partida, chegada e primeiro dia

LCD Soundsystem – Tribulations

6h00, o despertador toca. Sem dificuldade, levanto-me e dirijo-me para a casa de banho para o habitual duche matinal. Só já dentro da banheira e com a água quente a escorrer-me pelos ombros é que efectivamente me apercebo que este será o último duche em Lisboa durante muito tempo. Visto-me, com uma sweat-shirt e blusão (ridículo para Agosto em Lisboa) e calço as botas da Timberland, porque se fossem na mala aumentariam o excesso de peso que já contava com 8 kilos... A mãe acorda, o telemóvel vibra com uma mensagem do irmão que está a estudar e que pergunta qualquer coisa que me escapa. Como qualquer coisa à pressa, sem grande fome. Pego nas malas e ponho-me fora de casa.

Chego ao aeroporto pelas 7h15 e enquanto procuro o balcão do check-in, ainda não me tinha mentalizado que era mesmo para ir. Chega a minha vez, mostro, orgulhoso, o papel que imprimi e que tinha o código de reserva do bilhete (comprado pela internet, uma estreia!) e ponho a mala na balança. 28 kilos, 8 a mais do que o permitido, como previsto na velhinha balança lá de casa. Passam-me o recibo de excesso de peso, pago e entretanto chega a irmã, o cunhado e a sobrinha. Grande festa no balcão, à cigana. Pacotes de bolachas enfiados na mochila à pressa, dirijo-me então para o balcão 29 do check-in para poder receber o cartão de embarque. Com ele na mão, passa a ser real; vou mesmo embora daí a coisa de uma hora. Aparece entretanto o tio, vindo de Sintra de propósito para se despedir do sobrinho e afilhado. Ainda dá tempo (à portuguesa) para todos tomarmos um café e antes que me aperceba, já são 8h00 e tenho que me ir embora. Abraços, beijinhos, birra da sobrinha (“o pio vai embora, dê lá beijinho...”), adeus familhia que o benjamim vai para a Escandinávia.

No controlo de segurança, dizem-me para despachar-me que já estão a chamar pessoal para esse voo. Pego na mochila, na mala do portátil (que demorou épocas a tirar da mochila) e vou a correr para a porte de embarque 12. Como é óbvio, é na outra ponta do terminal. E eu, a correr com botas novas, de blusão e camisola, com uma mochila e um portátil nas mãos, lá consigo chegar a tempo do “last call for flight AY 922 to Helsinki”. Mostro o meu BI e cartão de embarque e desço até ao autocarro. Lá, enquanto tiro camisola, substituo botas por ténis e afins, liga-me a família a dar as últimas despedidas. Finalmente embarco no Airbus A320 da Finnair que me vai levar para a outra ponta da Europa.

Voo sem história, mas com algumas estórias. Desde os inúmeros chineses e indianos a bordo (claramente era um voo de ligação), ao bebé grande, gordo e loiro com um pijama de zebra (a ver se encontro um para oferecer à Teresinha), ao finlandês que à minha frente lê um jornal em que um artigo sobre o Deco e o seu golo de livre directo, em que chamavam ao médio do Chelsea “Decolla”, às pacatas três horas e meia de sono, entre uma refeição da qual não reza esta crónica até à simpatia das hospedeiras de bordo (primeiro contacto com mulheres nórdicas bem acima do metro e oitenta).

Começa a descida para Helsinki-Vaanta e a primeira impressão é que todo o pais é formado por lagos, ilhotas, baías e abetos (o que não está muito longe da verdade). Desembarco e sigo entre a hesitação e a temeridade as indicações em finlandês e sueco até aos tapetes onde espero uns 10 minutos até aparecer a minha mala. Um dia (ou um post) farei um inventário sobre o que veio para cá, para ver se será o mesmo que volta...

Fatboy Slim – Right Here, Right Now

Saio do terminal para o Arrivals Hall 2, onde me aguardam duas horas de espera pela “Tutor”, a Johanna, que só me pode apanhar pelas 17h45, sendo que são 15h40... Penso em comer qualquer coisa no café, mas aliado ao preço proibitivo de 4,5€ por uma sanduíche, está o impedimento de nem sequer saber o que é que as ditas contêm. Isto porque os painéis informativos estão em finlandês e sueco. Gorada a hipótese sanduíche, atiro-me às bolachas perdidas pela mochila enquanto saco do Mac (Macbook, o meu portátil) e ponho-me a ver o Any Given Sunday, pela sétima ou oitava vez...

Recebo uma mensagem da Johanna a dizer que havia chegado. Procuro-a e encontro-a, justamente de acordo com a sua descrição: muito alta e loira. Conheço também o Alex (alemão) e o Chris (belga). Como as malas não cabem todas no Volvo da Johanna, eu e o Chris seguimos num táxi para o nosso bairro, Harustie, nos blocos 7. O taxímetro corre alegre até à bonita soma de 40 euros (mas devo dizer que nos cinco minutos que esperámos pela Johanna e o Alex, o taxista deixou correr – pouco próprio de um homem que ouve Bob Marley e reggae). Assim que finalmente eles chegam, a Johanna dá-me as chaves de casa e leva-me ao bloco B, onde encontro o apartamento 012, a minha casa durante os próximos meses.

Jack Johnson – Flake

Entro e conheço o Romain, francês de Grenoble e provavelmente o único rapaz aqui mais baixo que eu (ou até conhecer o Rodrigo, mexicano – mas já lá vamos). Digo o meu nome e imediatamente começa a perguntar se não é Diego. Pronto, já ficou. Entro no meu quarto, aprendo o truque das fechaduras e começo a desfazer as malas. Vou conversando com o Romain e fico a saber que no outro quarto (somos três neste apartamento) está um canadiano, o Guillaume, provavelmente a dormir, apenas e só porque são sete horas de diferença do Quebec para aqui. Hmm, um francês e um canadiano francófono... Aqui começo a pensar que vou ter que estar de 10 em 10 minutos a pedir-lhes para falarem em inglês. Mensagem para a mãe a dizer que já cheguei, chamada da tia a perguntar se tinha tudo preparado. Quando respondo que estou a desfazer a mala, pergunta-me se não tenho avião às seis. Eu digo que sim, mas que tinha sido às seis... da manhã. Risota, diz para eu desligar por causa do roaming, não sem antes serem mandados beijinhos para cá e lá. Sim, o lá agora é Lisboa... Depois de arrumadas as coisas, eu e o Romain vamos ao SMarket em frente a casa comprar qualquer coisa para jantar. Visto que temos esparguete, decidimos comprar a única coisa que sabemos o que é: hambúrgueres, pois tudo o resto está em finlandês e sueco. E nem sequer sabemos de que tipo de carne são os hambúrgueres – foi uma simpática senhora que nos traduziu a descrição; aparentemente, são de mistura de carnes. Ok, vamos a isso, são baratos.

Faço a cama e estendo-me nela... Quando dou por mim são 22h15 – hora de Helsinki. Visto que o Romain não sabe cozinhar (como é que é possível?) e o Guillaume ainda dorme, começo a fazer a carne e a massa. Nisto, o canadiano aparece e começa também a fazer a comida dele. Um sujeito um bocado calado e reservado, mas simpático. Jantamos, frugalmente, mas bem dispostos. Como só temos internet a partir de dia 1 de Setembro, o dia em que começa o contrato, recolho ao quarto e deito-me porque no dia seguinte muita coisa há para fazer.

Moby – Go

Esta é a música que tinha posto no Awaken para acordar às 7h20. Faço os meus 30 abdominais e vou tomar um duche. Como uns Corn Flakes e seguimos os 3 para o Metro. Na estação de Rastila (em finlandês) ou Rastbole (em sueco), compro um bilhete de 2 euros (!) e encontro o Alex e o Chris. Seguimos os 5 (e todos os outros estudantes que viajam em grupos) para Kamppi / Kampen. Entramos na Hanken e temos a sessão de recepção e boas vindas.

Tratamos das burocracias (pagamento da inscrição na SHS, matriculação oficial na Hanken, assinatura do contrato de alojamento, registo no Maistraati - género de Ministério da Administração Interna - de Helsinki ou Helsingfors) com almoço pelo meio. Depois de tudo isto, aproveito para enviar um mail para casa e fazer a inscrição nas cadeiras e exames. Após isto, eu, o Chris e o Alex e mais uns quantos alemães vamos em busca da Estação Central de Comboios para fazer o passe de metro e autocarro mas assim que saímos da Hanken começa a chover. Bonito, Goga, nem sequer trouxeste impermeável para cá – lembrei-me nesse preciso momento, e assim já tenho uma encomenda de Lisboa para pedir. Apanhamos um tram e não pagamos (bandidos!) e lá chegamos a Lasipalatsi ou Glaspalatset (Palácio de Vidro), onde fica a estação. Como a agência da HKL está totalmente cheia, vamos à de Itakeskus ou Ostra Centrum (sim, muito estranho) e em 15 minutos todos os 7 de nós temos um passe que nos dá direito a andar de autocarro, metro, tram e comboio na área urbana de Helsinki. O Chris pergunta, a gozar, se também dá para táxis e é a risada geral na agência. Vamos então para casa.

Bossa n’ Roses – Patience

Começo a escrever os primeiros posts antes que as ideias saiam da cabeça ou a velhinha Moleskine onde estão estes apontamentos dê de si, mas saímos para fazer compras – no Lidl de Itakeskus, a duas estações de casa. Chegados finalmente, sento-me para escrever estas últimas linhas e ficar apreensivo com o tamanho do texto (1627 palavras até aqui). Vou então fazer o jantar e depois vamos seguir para uma festa no bloco E – a primeira “house party”, cuja descrição ficará para um próximo post.

1.9.08

[Ventos de Nordeste] - Prefácio

Desde sempre tive uma paixão por Itália: seja pela comida, seja pela paisagem que a esse pais é associada, pelo futebol, pela família, por tudo e mais alguma coisa. Por isso a escolha de Itália como destino de Erasmus sempre fosse uma escolha óbvia. E foi mesmo isso que fiz.

Quem estiver a ler isto interrogar-se-á porque estou a falar disto. Menciono isto porque sem se perceber o contexto, não se perceberá as razões deste início de “journal”.

Quando finalmente saíram as colocações do primeiro concurso de Erasmus da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, não fui colocado. E para Itália já não restavam vagas para o segundo concurso.  A ver a minha vida a andar para trás, decidi então participar numa reunião promovida pelos alunos que, à minha semelhança, não foram colocados no primeiro concurso. Tendo uma boa pontuação para poder escolher minimamente à vontade a vaga que quisesse, decidi então vir para onde estou.

Resumindo: queria ir para a Bolonha, em Itália e acabei em Helsínquia, na Finlândia.

Escolhido o destino e entregues os papeis, responderam-me da Hanken Swedish School of Business and Administration. Burocracias tratadas a eito e sem jeito (com total paciência por parte da responsável do International Office que me chegava a responder a mails só a dizer que as informações que eu queria estavam no site da Hanken – como é carinhosamente chamada por todos), arranjado alojamento e tratado o bilhete de avião – isto tudo durante a época de exames, stress a dobrar... – só me restava ir de férias e tratar das coisas que fossem necessárias mais tarde.

Depois de umas férias óptimas por esse Portugal fora, só me restavam as aventuras das compras e quejandos. Aqui tenho que fazer um agradecimento à mãe e a sua inesgotável paciência pelas voltas para trás e para a frente que deu comigo e pela ajuda que deu com as malas, ao pai pela ajuda financeira, aos manos pelos conselhos, aos avós pelas ideias de viagens, aos tios pelo encorajamento, aos amigos pelos planos marcados...

E quando dei por mim, dia 26 de Agosto tinha chegado e lá estava eu a ir para o aeroporto de Lisboa, prestes a partir...