2.9.08

[Ventos de Nordeste] - O começo de uma aventura, ou Crónica de uma partida, chegada e primeiro dia

LCD Soundsystem – Tribulations

6h00, o despertador toca. Sem dificuldade, levanto-me e dirijo-me para a casa de banho para o habitual duche matinal. Só já dentro da banheira e com a água quente a escorrer-me pelos ombros é que efectivamente me apercebo que este será o último duche em Lisboa durante muito tempo. Visto-me, com uma sweat-shirt e blusão (ridículo para Agosto em Lisboa) e calço as botas da Timberland, porque se fossem na mala aumentariam o excesso de peso que já contava com 8 kilos... A mãe acorda, o telemóvel vibra com uma mensagem do irmão que está a estudar e que pergunta qualquer coisa que me escapa. Como qualquer coisa à pressa, sem grande fome. Pego nas malas e ponho-me fora de casa.

Chego ao aeroporto pelas 7h15 e enquanto procuro o balcão do check-in, ainda não me tinha mentalizado que era mesmo para ir. Chega a minha vez, mostro, orgulhoso, o papel que imprimi e que tinha o código de reserva do bilhete (comprado pela internet, uma estreia!) e ponho a mala na balança. 28 kilos, 8 a mais do que o permitido, como previsto na velhinha balança lá de casa. Passam-me o recibo de excesso de peso, pago e entretanto chega a irmã, o cunhado e a sobrinha. Grande festa no balcão, à cigana. Pacotes de bolachas enfiados na mochila à pressa, dirijo-me então para o balcão 29 do check-in para poder receber o cartão de embarque. Com ele na mão, passa a ser real; vou mesmo embora daí a coisa de uma hora. Aparece entretanto o tio, vindo de Sintra de propósito para se despedir do sobrinho e afilhado. Ainda dá tempo (à portuguesa) para todos tomarmos um café e antes que me aperceba, já são 8h00 e tenho que me ir embora. Abraços, beijinhos, birra da sobrinha (“o pio vai embora, dê lá beijinho...”), adeus familhia que o benjamim vai para a Escandinávia.

No controlo de segurança, dizem-me para despachar-me que já estão a chamar pessoal para esse voo. Pego na mochila, na mala do portátil (que demorou épocas a tirar da mochila) e vou a correr para a porte de embarque 12. Como é óbvio, é na outra ponta do terminal. E eu, a correr com botas novas, de blusão e camisola, com uma mochila e um portátil nas mãos, lá consigo chegar a tempo do “last call for flight AY 922 to Helsinki”. Mostro o meu BI e cartão de embarque e desço até ao autocarro. Lá, enquanto tiro camisola, substituo botas por ténis e afins, liga-me a família a dar as últimas despedidas. Finalmente embarco no Airbus A320 da Finnair que me vai levar para a outra ponta da Europa.

Voo sem história, mas com algumas estórias. Desde os inúmeros chineses e indianos a bordo (claramente era um voo de ligação), ao bebé grande, gordo e loiro com um pijama de zebra (a ver se encontro um para oferecer à Teresinha), ao finlandês que à minha frente lê um jornal em que um artigo sobre o Deco e o seu golo de livre directo, em que chamavam ao médio do Chelsea “Decolla”, às pacatas três horas e meia de sono, entre uma refeição da qual não reza esta crónica até à simpatia das hospedeiras de bordo (primeiro contacto com mulheres nórdicas bem acima do metro e oitenta).

Começa a descida para Helsinki-Vaanta e a primeira impressão é que todo o pais é formado por lagos, ilhotas, baías e abetos (o que não está muito longe da verdade). Desembarco e sigo entre a hesitação e a temeridade as indicações em finlandês e sueco até aos tapetes onde espero uns 10 minutos até aparecer a minha mala. Um dia (ou um post) farei um inventário sobre o que veio para cá, para ver se será o mesmo que volta...

Fatboy Slim – Right Here, Right Now

Saio do terminal para o Arrivals Hall 2, onde me aguardam duas horas de espera pela “Tutor”, a Johanna, que só me pode apanhar pelas 17h45, sendo que são 15h40... Penso em comer qualquer coisa no café, mas aliado ao preço proibitivo de 4,5€ por uma sanduíche, está o impedimento de nem sequer saber o que é que as ditas contêm. Isto porque os painéis informativos estão em finlandês e sueco. Gorada a hipótese sanduíche, atiro-me às bolachas perdidas pela mochila enquanto saco do Mac (Macbook, o meu portátil) e ponho-me a ver o Any Given Sunday, pela sétima ou oitava vez...

Recebo uma mensagem da Johanna a dizer que havia chegado. Procuro-a e encontro-a, justamente de acordo com a sua descrição: muito alta e loira. Conheço também o Alex (alemão) e o Chris (belga). Como as malas não cabem todas no Volvo da Johanna, eu e o Chris seguimos num táxi para o nosso bairro, Harustie, nos blocos 7. O taxímetro corre alegre até à bonita soma de 40 euros (mas devo dizer que nos cinco minutos que esperámos pela Johanna e o Alex, o taxista deixou correr – pouco próprio de um homem que ouve Bob Marley e reggae). Assim que finalmente eles chegam, a Johanna dá-me as chaves de casa e leva-me ao bloco B, onde encontro o apartamento 012, a minha casa durante os próximos meses.

Jack Johnson – Flake

Entro e conheço o Romain, francês de Grenoble e provavelmente o único rapaz aqui mais baixo que eu (ou até conhecer o Rodrigo, mexicano – mas já lá vamos). Digo o meu nome e imediatamente começa a perguntar se não é Diego. Pronto, já ficou. Entro no meu quarto, aprendo o truque das fechaduras e começo a desfazer as malas. Vou conversando com o Romain e fico a saber que no outro quarto (somos três neste apartamento) está um canadiano, o Guillaume, provavelmente a dormir, apenas e só porque são sete horas de diferença do Quebec para aqui. Hmm, um francês e um canadiano francófono... Aqui começo a pensar que vou ter que estar de 10 em 10 minutos a pedir-lhes para falarem em inglês. Mensagem para a mãe a dizer que já cheguei, chamada da tia a perguntar se tinha tudo preparado. Quando respondo que estou a desfazer a mala, pergunta-me se não tenho avião às seis. Eu digo que sim, mas que tinha sido às seis... da manhã. Risota, diz para eu desligar por causa do roaming, não sem antes serem mandados beijinhos para cá e lá. Sim, o lá agora é Lisboa... Depois de arrumadas as coisas, eu e o Romain vamos ao SMarket em frente a casa comprar qualquer coisa para jantar. Visto que temos esparguete, decidimos comprar a única coisa que sabemos o que é: hambúrgueres, pois tudo o resto está em finlandês e sueco. E nem sequer sabemos de que tipo de carne são os hambúrgueres – foi uma simpática senhora que nos traduziu a descrição; aparentemente, são de mistura de carnes. Ok, vamos a isso, são baratos.

Faço a cama e estendo-me nela... Quando dou por mim são 22h15 – hora de Helsinki. Visto que o Romain não sabe cozinhar (como é que é possível?) e o Guillaume ainda dorme, começo a fazer a carne e a massa. Nisto, o canadiano aparece e começa também a fazer a comida dele. Um sujeito um bocado calado e reservado, mas simpático. Jantamos, frugalmente, mas bem dispostos. Como só temos internet a partir de dia 1 de Setembro, o dia em que começa o contrato, recolho ao quarto e deito-me porque no dia seguinte muita coisa há para fazer.

Moby – Go

Esta é a música que tinha posto no Awaken para acordar às 7h20. Faço os meus 30 abdominais e vou tomar um duche. Como uns Corn Flakes e seguimos os 3 para o Metro. Na estação de Rastila (em finlandês) ou Rastbole (em sueco), compro um bilhete de 2 euros (!) e encontro o Alex e o Chris. Seguimos os 5 (e todos os outros estudantes que viajam em grupos) para Kamppi / Kampen. Entramos na Hanken e temos a sessão de recepção e boas vindas.

Tratamos das burocracias (pagamento da inscrição na SHS, matriculação oficial na Hanken, assinatura do contrato de alojamento, registo no Maistraati - género de Ministério da Administração Interna - de Helsinki ou Helsingfors) com almoço pelo meio. Depois de tudo isto, aproveito para enviar um mail para casa e fazer a inscrição nas cadeiras e exames. Após isto, eu, o Chris e o Alex e mais uns quantos alemães vamos em busca da Estação Central de Comboios para fazer o passe de metro e autocarro mas assim que saímos da Hanken começa a chover. Bonito, Goga, nem sequer trouxeste impermeável para cá – lembrei-me nesse preciso momento, e assim já tenho uma encomenda de Lisboa para pedir. Apanhamos um tram e não pagamos (bandidos!) e lá chegamos a Lasipalatsi ou Glaspalatset (Palácio de Vidro), onde fica a estação. Como a agência da HKL está totalmente cheia, vamos à de Itakeskus ou Ostra Centrum (sim, muito estranho) e em 15 minutos todos os 7 de nós temos um passe que nos dá direito a andar de autocarro, metro, tram e comboio na área urbana de Helsinki. O Chris pergunta, a gozar, se também dá para táxis e é a risada geral na agência. Vamos então para casa.

Bossa n’ Roses – Patience

Começo a escrever os primeiros posts antes que as ideias saiam da cabeça ou a velhinha Moleskine onde estão estes apontamentos dê de si, mas saímos para fazer compras – no Lidl de Itakeskus, a duas estações de casa. Chegados finalmente, sento-me para escrever estas últimas linhas e ficar apreensivo com o tamanho do texto (1627 palavras até aqui). Vou então fazer o jantar e depois vamos seguir para uma festa no bloco E – a primeira “house party”, cuja descrição ficará para um próximo post.

2 comments:

Anonymous said...

Gostei muito deste seu "decreto", é mesmo assim que devem ser os posts dos filhos que estão no estrangeiro! Descrição pormenorizada das refeições e de tudo, para acalmar as inquietudes maternas... Não consigo é ouvir as músicas ao mesmo tempo que leio, há algum truque? Não faz mal, abro diligentemente os links, oiço a música, volto atrás e continuo a leitura (já com o do Manel era a mesma coisa, e ele não respondeu a esta minha ignorância...)
Beijinhos ao príncipe Jorge, de sua mãe, Rainha Maria Luisa

Anonymous said...

meu amor que saudades :) e que independente e determinado está o meu irmão querido!! Mil beijos da mana