29.12.08

[Ventos de Nordeste] Entre cá e lá

MGMT - Time To Pretend

Primeira semana em Lisboa, Portugal, primeira semana longe de Helsinki, Finlândia. Custa habituar a estar entre vidas: ainda não vi todos os meus amigos nativos mas pouco ou nenhum contacto tenho mantido com os que por lá ficaram ou já para longe também viajaram.

É tempo de fingir habituações e adaptações rápidas: veio o Natal e com ele trouxe a família e almoçaradas e jantaradas longas e vem agora o Ano Novo que trará mais viagens para fora de Lisboa e amigos e festa e animação.

Mas enquanto não recomeçar a verdadeira rotina, aulas, estudo, algo que estimule toda a vida diária, vivo entre vidas, entre Lisboa e Helsinki, entre a vida antiga e a vida de Erasmus, entre os sentimentos contraditórios de saudades e de alegria.

Vivo em vida emprestada porque ainda não deu para agarrar-me a uma só.

22.12.08

[Ventos de Nordeste] O último voo



Último post, últimas horas em casa, Helsinki, Finlândia, Erasmus, últimas limpezas e arrumações, depois das últimas despedidas, últimos abraços e beijinhos e encontros.

Promessas de viagens, contactos, recordações pairam nas salas, nos quartos, nas ruas e caminhos de Harustie, nas entradas dos prédios, nas cabeças de todos nós.

Fica por aqui concluída a publicação de posts na Finlândia sobre os Ventos de Nordeste aqui no Principado, mas inicia-se um novo ciclo, desta feita em Portugal. Por escrever estão ainda as viagens a Stockholm e Amsterdam e também à Rússia. E um balanço final, sobre tudo aquilo que foi, podia ter sido e ainda será.

Para que não fiquem por dizer mais palavras, deixo-as serem ditas por outros que não eu.



21.12.08

[Ventos de Nordeste] Luz e escuridão



As luzes iluminam, nas janelas, o caminho de volta a casa, a salvo da escuridão da Finlândia. Em tempos de progresso, já fica mais fácil voltar para casa e as velas que ardiam pacientemente durante a noite e que atravessavam a escuridão perdem relevância mas não significado. Substituídas por lâmpadas eléctricas em forma de velas, continuam a marcar presença em quase todas as janelas, de quase todos os prédios.

Para nós, estudantes Erasmus, são as luzes que nos iluminam o caminho de volta para os respectivos ninhos nos respectivos países. Porque chegou a altura de se acabarem os voos, chegou a altura de voar até casa e recolher a cabeça debaixo da asa e dormir num sono prolongado, onde poderemos sonhar e suspirar por outros voos.


19.12.08

[Ventos de Nordeste] Postas de pescada



Porque demoro tanto tempo a escrever um post?

Porque, sendo um dos seres humanos mais curiosos que conheço, sempre que abro a Wikipedia para pesquisar um qualquer artigo, demoro-me horas a abrir artigos paralelos ao necessário para a posta que intendo a publicar.

Porque no YouTube me entretenho a ver vídeos de outros intérpretes e artistas sem ser pragmático o suficiente para escolher o que necessito e ficar-me por esse.

Porque gosto de especular e questionar-me se um post terá a necessária informação de fundo relevante e necessária para que a 4101 km de distância me percebam e entendam.

O facto de estar tão longe e tão perto não invalida o facto de viver uma esperança de um futuro que junte as melhores experiências das duas vivências, mas para isso vou ter que lutar.

Até lá, Natal em família e passagem de ano com amigos portugueses!

Mas a verdade é que os verdadeiros dias de Dezembro são vividos com os amigos criados em pouco mais de meia dúzia de conversas, vivências inesperadas, expectativas de saudades goradas, imaginação solta e recomendável...

Porque depois de voltar será um duro choque de regresso à realidade. Já me imagino a conduzir nas Forças Armadas ou no Eixo Norte-Sul e a desesperar por um lugar na Marquês de Tomar; a embasbacar-me pelos preços ínfimos de uma cerveja no Bairro Alto, comparado com a Finlândia, a perenamente surpreender-me com a disposição de amigos em ir apanhar-me ao aeroporto, mesmo sabendo que pouco ou nada fiz para manter a amizade...

Quero voltar mas ainda assim quero saber se posso voltar...


[Ventos de Nordeste] Horas



A 76 horas de voltar a Portugal, resta-me alegrar pelas lágrimas que causo, pelas memórias que deixo, pelas canções que empreendo.

A tempo suficiente de voltar, a tempo de deixar marcas nesta terra, neste país, nesta vida.

Adeus amigos, adeus que me vou. Adeus Finlândia, adeus Suomi, adeus mas até já nas memórias!

Há ainda tempo para mais, espero. Há, certamente, tempo e espaço para aventuras e desventuras. Porque tudo o que me espera em Portugal se vai orgulhar do que aprendi, vivi, fiz, conheci, experimentei...

Quase, quase a voltar, fica o repto de expectativa de ver quem me espera no burgo...


18.12.08

[Ventos de Nordeste] O fim do Legenda



Ontem, última quarta feira em Helsinki, marcou também a última noite do Legenda, o pub da AE da Hanken. Como tal, quase todos os alunos de Erasmus marcaram presença e uns quantos outros Hankeits também.

Festa tranquila, onde a emoção estava presente em todas as assinaturas de t-shirts, overalls, livros, etc.

Foi o fim do Legenda e que marca também o regresso à inocência: as partidas de amigos já não são feitas a conta-gotas, mas antes a torneira aberta leva-os para longe, para essa Europa fora, se bem que à distância de um computador com internet ou, quem sabe, um bilhete de avião low-cost em Janeiro...


17.12.08

[Ventos de Nordeste] Últimos sopros



Últimos dias, últimos sopros, últimos fôlegos em Helsinki. Entre pensar em fazer as malas e estranhar que há quem já tenha voltado, entre o stress de limpar a casa e de enviar uma encomenda para Portugal com coisas que não vão caber na mala, entre gerir bem o orçamento curto para os curtos dias e pensar no paper que tenho que entregar até 6ª, entre tanta coisa que ainda falta fazer, ver e viver, entre tanta coisa para voltar, perdi-me algures no tempo e no espaço.

I've got soul but I'm not a soldier...

Vivo em luz emprestada, noite contínua e fria, festas de despedida da Finlândia a cada dia que passa e cada vez menos escolha de coisas para fazer, movido pela adrenalina do fim pendente deste Erasmus, mas com a certeza de que ao voltar para Portugal algo de novo e óptimo vai começar. Sei, porque a vida é assim.

12.12.08

[Ventos de Nordeste] Contrastes



"Are you watching closely?" - frase com que começa o filme The Prestige, um dos primeiros filmes que vi cá na Finlândia, quando ainda era um novato nisto de Erasmus. A verdade é que já há muito que se deixou de olhar atentamente a cada pormenor para se olhar para a "big picture". Mas agora que o tempo verdadeiramente escasseia, é tempo de olhar cada vez mais com olhos de ver para tudo.

Depois de mais uma visita (do Tio), do hat-trick de visitas a Tallinn (agora no Inverno, depois do Verão e do Outono), depois do jantar de despedida mas ainda antes do último exame e do último paper e, quem sabe, de uma última viagem a Turku, é tempo de verdadeiramente me perguntar se estou acordado ou a sonhar.

Porque estes 4 meses aproximam-se da sua última semana e do regresso ao Sul, à normalidade, à rotina, onde deixo de ser especial porque estou noutro país, tanto para os que me acompanham cá, como para os que ficaram em Portugal. Porque sei que apesar de matar as saudades dos que ficaram, vou ficar com saudades dos que comigo também partiram.

E, apesar de tudo, não sei ainda quais serão as mais pesadas.


7.12.08

[Ventos de Nordeste] A mochila


A mochila que tenho usado por cá, para as viagens, é do Manel. E ela já o acompanhou por essa Sudamerica fora e a mim pela Europa do Norte fora.

Uma Rip Curl, verde, com capacidade para muitos litros (não sei!), fielmente acompanhou-me por esses lugares tão exóticos como Helsinki, cottage weekend, por toda a MSE (Stockholm, Nijmegen, Amsterdam, Copenhagen, Helsinki), Lapónia (duas vezes), Tallinn, Moscovo, São Petersburgo e o ginásio de Helsinki.

Agora, que ainda está cheia da roupa da Lapónia (tenho estado doente e não tenho tido paciência para desfazê-la), está quieta e encostada à parede, esperando somente a próxima viagem.




6.12.08

[Ventos de Nordeste] A semana do frio


Segunda feira, 1 de Dezembro. Jantar muy temprano, pelas 19h15 - à sueca - , na sequência da feitura da mochila para a Lapónia. Lavo a loiça, despeço-me do Romain e do Côme, outro francês que tinha dado um salto cá a casa, pego na mochila e fico um bocado apreensivo com o peso dela - era menina para pesar aí os seus 12 quilos. Não porque fosse levá-la num avião, mas porque se há coisa que aprendi a gostar e a fazer aqui na Finlândia, é viajar leve.

Encontro-me com o Wybren (holandês) e um dos Florians, o ruivo, na praça e metemo-nos a caminho do metro. Lá encontramos uma catrefada de raparigas que também vêm nesta viagem. Goza-se com o tamanho da mochila da Cynthia, que era quase do tamanho dela, e com a qual às costas ela não consegue levantar-se se estiver sentada. Aqui não se vêem as malas de toda a gente, mas praticamente todos levaram a sua mala grande e todos ficaram espantados como é que eu conseguia levar tudo numa mochila tão pequena.



(da esquerda para a direita: Marie e Jasmin, alemãs, Charlotte, francesa, Majda, marroquina radicada em França, eu, com o meu overall até à cintura, Florian, Wybren, François, francês e no chão a pequena Cynthia)

Pelas 21h encontrámos em Rautatientori (Järnvägstorget, Central Railway Station, Praça dos Caminhos de Ferro) o Walther, austríaco e a Mickaela, eslovaca a viver em Viena, a Stella, italiana, o Maciek, polaco, a Jutta e a Yvonne, as tutoras que vieram connosco. O engraçado é que para além de nós, hankeits, só mais 3 raparigas espanholas vieram nesta viagem de Helsinki. Aparentemente, estavam de férias e a visitar a irmã de uma delas que estuda cá mas como a dita irmã estava em exames, aproveitaram para viajar um bocado. Quantos mais melhor!

Viagem sem história até Tampere, onde apanhámos mais três raparigas que tinham viajado até lá de Turku, duas eslovacas e uma belga, perfazendo um simpático grupo de 25 pessoas, das quais éramos 6 rapazes! Viagem por essa noite fora, muito mal dormida, até chegarmos, pelas 9h a Ranua, onde tomámos o pequeno almoço num hotel e partimos para o Jardim Zoológico de Ranua, o mais setentrional do mundo.

Perante a grande escolha de actividades a fazer (uma visita ao zoo, andar de trenó puxado a huskies ou a renas ou andar de moto de neve), o grupo separou-se e encontrou-se por aí, eu fiz as duas primeiras. A grande atracção do zoo, que tem imensos animais do Árctico, são os ursos polares, os maiores predadores terrestres.


O único macho do zoo a brincar com um pneu, as fêmeas estavam noutro espaço.


Tamanho real! Estava a usar um overall lá do parque que era emprestado a todos os que fizessem os safaries para proteger do frio. Por acaso, estavam uns agradáveis -3º C...

Depois disto tudo, mais uns 90 km até Rovaniemi e eis-me chegado à capital da Lapónia, agora sim coberta de neve! Fizemos compras para o jantar, comemos no McDonald's mais a Norte do mundo e fomos para as nossas cottages.


As nossas cottages faziam parte do um motel à beira da estrada, à americana, e cercado por uma floresta. Os telhados estavam cobertos de neve e os caminhos também. Coelhos saltitavam alegremente por entre as cottages e eram tão dóceis que vinham comer à mão, bastava chamá-los. A minha cottage, a 24, ficou definida como a Party Cottage, ou mais familiarmente, a E Cottage. Cada uma tinha a sua própria sauna, se bem que a nossa sauna era capaz de ser a única que desse para alojar três pessoas ao mesmo tempo...

Para o jantar, nós, rapazes, fizemos um fogo bem agradável, de lenha, num edifício típicamente lapão: uma casinha redonda e baixa, com o telhado em forma de cone, cujo topo abria-se numa chaminé.


Eu, a supervisionar o fogo.

Enquanto fazíamos o fogo, as raparigas foram à sauna comum do motel. Comemos todos juntos, os hankeits, na própria casinha, onde íamos pondo salsichas e outras carnes e batatas no fogo. Depois do jantar, fomos nós à sauna e elas limparam a casinha. A emancipação é uma estrada de dois sentidos... Desta vez, e com a possibilidade de fazer uma sauna à moda da Lapónia, decidimos sair para o meio da rua e rebolar na neve de cada vez que saíamos da sala. Só para homens!

Depois, foi a vez da festa na minha cottage!



No dia seguinte, acordámos pelas 8h30 e o sol ainda não se tinha levantado. Aliás, só se dignou a fazê-lo decentemente pelas 10h mas não deve ter gostado do que viu pois pelas 15h já era noite cerrada. Estivemos duas horas e meia na vila do Pai Natal. Eu, que já lá tinha estado, só lhe achei piada porque agora estava coberta de neve e tinha um pequeno parque de renas. Depois disso, voltámos a Rovaniemi, onde almoçámos no Rosso (lembra-se, mãe?) e depois partimos para a estância de Ounasvaara para quem quisesse fazer ski ou snowboard.

Lá encontrámos outros alunos de Erasmus da Hanken, que tinham ido noutra viagem e cujas cottages ficavam na base das colinas de Ounasvaara. Como era o início da época de neve, só uma pista estava aberta. Assim, fizemos essa pista vezes e vezes sem conta, mas muito animados e felizes; afinal, estávamos a fazer pistas com amigos quase no Círculo Polar Árctico!

Umas horas depois, regressámos a casa e desta vez as raparigas presentearam-nos com um jantarinho bem agradável na minha cottage. Depois, foi uma noite bem tranquila. Os que quiseram fazer uma festa ficaram por lá, os outros recolheram às cottages deles. Como estava todo destruído, fui jogar cartas com os outros. Tempo ainda, antes de me deitar, para fazermos a nossa própria aurora boreal, visto que durante todo o tempo que estivemos na Lapónia o céu esteve coberto.



No dia a seguir, tempo ainda para visitar rapidamente uma quinta de renas e de nos fazermos à estrada. 12 horas sempre a aviar cartucho: uma pessoa só se apercebe que Rovaniemi é assim tão longe quando vai de comboio ou de autocarro, de avião não vale... É que Rovaniemi fica 5 km a Sul do Circulo Polar, o que significa que está mais a Norte que o Alaska, a Islândia e grande parte do Canadá... Estiveste em Ushuaia, a cidade mais a Sul do mundo, Manel? Não faz mal, eu estive a maior latitude!

Chegados a Helsinki, pelas 22h30, foi só tem
po de nos metermos no metro até casa, descarregar as mochilas e cair na cama para só acordar bem tarde no dia seguinte.


Dia preguiçoso: acordei tardíssimo, almocei tardíssimo, comprei uns cartões de Natal para escrever para Portugal, fiz uma composição para Sueco (sobre uma festa típica do nosso país: escrevi sobre os Santos Populares). Quando acabei, ligaram-me para me desafiar a ir patinar no gelo e jogar hóquei no gelo. Como é óbvio, e apesar de nunca ter patinado na vida, aceitei. Fomos então até ao ringue em Kallio, que fica perto da estação de Sornäinen / Sornäs, onde ficámos horas e horas. Saímos de lá quando já estava fechado! Enfim...


A fazermos uns passes antes de jogarmos.



(da esquerda para a direita: Wybren, Johan, sueco, e eu)

Concluiu-se assim a semana do frio, marcada por viagens, frio, neve, gelo, diversão, escuridão... enfim, a Finlândia!


1.12.08

[Ventos de Nordeste] Visitas impromptu e Lapónia outra vez



Sexta feira, durante a tarde:

"Olha, quando é que vais para a Lapónia?"
"Segunda feira, porquê?"
"Ah, é que a Joana vai de Tornio para Helsinki e era para saber se ela e mais dois amigos podem ficar aí em casa..."
"Hmm... se não se importarem de dormir no chão e apertados..."

E foi assim que tive as segundas visitas, impromptu, e que ficaram por cá dois dias e já se foram hoje de manhã para Tallinn prosseguir o seu mini-interrail. Pelo meio, fui presenteado com um bacalhau à Gomes de Sá para aproximar o estômago de Portugal.

Este fim de semana fica também marcado por ter terminado, finalmente, o raio do term paper para EOI. Nem tempo para festejar houve: hoje parto já para a Lapónia, outra vez, onde desta vez espero encontrá-la cheia de neve e talvez, quem sabe, fazer snowboard.

Pois é, sempre a andar, sempre a viajar, sempre a sonhar.

Ah!, e quando voltar prometo que escrevo sobre a MSE e a Rússia. Esses posts serão o novo term paper, pelos vistos...