13.2.09

[Ventos de Nordeste] MSE

2. Dia e meio em Stockholm

07/10: Stockholm, Sverige

Moby - In My Heart



Acordamos cedo e lá nos coordenamos com os banhos para ver se saímos da cabina a tempo de ainda tomar o pequeno almoço a bordo e ver a navegação à entrada de Stockholm por entre as ilhas amortalhadas por uma neblina matinal, ao que parece muito típica.

Atracamos e desembarcamos. Como de costume, a confusão impera quando todas as pessoas tentam chegar mais rápido que as outras aos autocarros e por isso o nosso grande grupo separa-se e demoramos algum tempo a juntarmo-nos todos. Ao fim de algum tempo, voltamos a pegar nas malas e mochilas e pomo-nos a caminho. Andamos uns 20 minutos até ao hotel, em Södermalm (considerada a zona mais pobre de Stockholm, mas mesmo assim com grande qualidade de vida) onde alguns quartos ainda não estavam prontos - como é óbvio, o meu não estava... Deixámos então as malas na sala de bagagens, pegámos em mapas, pedimos para assinalar o nosso hotel e eu e os que estavam no meu quarto saímos para explorar.

A primeira impressão (daquele dia, se calhar!) é de que Stockholm é uma cidade cheia de luz porque as ruas são largas na parte nova da cidade e os prédios com muitas janelas espelham a luz, dando a impressão de um dia de Verão quando na verdade estavam uns 10 graus. Levantamos também dinheiro, as Coroas Suecas (Kronor), cuja taxa era de 1€ para 9,5 SEK.







As duas últimas fotos são do topo de um miradouro de onde se tinha uma vista panorâmica sobre a cidade, desde a foz do rio Norrström às ilhas dispersas que constituem a própria cidade. Depois de descermos do elevador, aventuramo-nos pela primeira vez pela Gamla Stan, a cidade velha.

A cidade velha está construída numa ilha no meio do rio e nota-se facilmente as influências germânicas na arquitectura e no pavimento: as ruas são calcetadas com pedras negras basálticas, à semelhança de Tallinn. O Palácio de Stockholm, residência oficial do monarca, e outros edifícios como catedrais, a Bolsa de valores que funciona no antigo edifício da Svenska Akademien (Academia Sueca), que atribui os Prémios Nobel.





Depois de passarmos pela Cidade Velha, dirigimo-nos para o ponto de encontro com o resto do grupo. Aproveitamos uns minutos de sol enquanto não chega toda a gente e para perceber o que se vai fazer depois. Almoçamos no McDonald's (sempre presente), onde peço num sueco muito aceitável. Depois de repostas as energias, saímos todos num grande grupo onde uma amiga de uma das tutoras que nos acompanharam nos ia gentilmente dar uma visita guiada pela Gamla Stan.

Toranja - Laços





Passamos então pelo edifício da Academia Sueca, bem no centro da ilha. Entretanto começamos a reparar no denominador comum de todos nós: de vez em quando, as pernas tremiam-nos e abanávamos, o suficiente para parecer que estávamos ainda a navegar; esta ocorrência foi denominada, em jeito de piada, como "the new Stockholm Syndrome".


Após nova passagem pela cidade velha, voltámos ao hotel (a tarde já ia a meio) para deixarmos as mochilas nos quartos e aproveitámos para ir tomar um café antes do jantar, para descansar um bocado. Já todos reunidos, dirigimo-nos então para o restaurante onde tinhamos marcado o jantar para cerca de 35 pessoas. Como não cabíamos todos numa mesa, fomos separados e dispersos pelo restaurante, onde acabámos por ficar em pequenos grupos o que permitiu uma conversa agradável e fluida. Jantei uma posta de salmão tão grande e suculenta que parecia um bife do lombo e bebemos todos uma garrafa de vinho branco, tendo pago cerca de 150 SEK (menos de 15€) por tudo e ainda café.

Daft Punk - High Life

Animados, seguimos então para um bar não muito longe do hotel, o que não difere tanto de uma normal terça feira em Helsinki para nós, estudantes de Erasmus. Mas a verdade é que estamos longe da casa longe de casa, e estamos numa cidade nova e celebramos por isso. E celebramos também, à meia noite, o aniversário da Yvonne, tutora que faz 21 anos. Saímos do bar e seguimos para o hotel, onde a festa prossegue num dos quartos e só acaba quando já não houver forças para mais.

08/10: Stockholm -> Arlanda (comboio: Arlanda Express)

Acordamos e assistimos à derrocada dos mercados financeiros na Ásia. Fazemos turnos para tomar banho e arrumar as coisas, mas sempre de olho na televisão e ligeiramente apreensivos sobre tudo o que poderá isto trazer, não fôssemos nós estudantes de, entre outras coisas, Economia.

Descemos para tomarmos frukost (pequeno almoço em sueco) onde comemos smörgåsar, bebemos mjölk ou applesinsaft e acabamos com uma boa kopp kaffe (ou para os mais relaxados, uma kopp te). Com a barriga satisfeita, subo para buscar a minha mochila e tirar umas últimas fotografias ao quarto e à cama onde até a esse ponto tinha dormido melhor em Erasmus.




Desco e encontro o restante pessoal no lobby do hotel a caminho do pequeno almoço ou já a sair. Conselhos para coisas a fazer e ver em Amsterdam, exigências de promessas que me divirta, abraços para aqui e beijinhos para ali, lá me vou despedindo. Tempo ainda para mandar mails à pressa para família, amigos na Holanda e em Portugal antes de pegar nas coisas e sair.

Kings Of Leon - Day Old Blue

Saio e encontro o Rafa com o Alex e o Simon à porta do hotel, aparentemente à espera de nada. Pergunto para onde vão e descobrimos que vamos todos para o mesmo sítio. Entramos então no metro e dirigimo-nos para o centro da cidade. Eles iam explorar mais um bocado, eu ia para a Central Station, onde ia apanhar o comboio até ao aeroporto.



Separamo-nos à saída do metro e deixo definitivamente Helsinki para trás e deparo-me sozinho, numa cidade a centenas de quilómetros de distância daquilo que conheço e tenho vivido e a milhares daquilo que sempre fui. Os únicos laços que me ligam à terra são os parcos conhecimentos de sueco, a lingua inglesa e uma folha de papel na mochila que me garantia um lugar no voo que me levaria até Schiphol, na Holanda.



Na estação sigo as setas (está mesmo muito bem indicado) até ao Arlanda Express, comboio que segue directo até ao aeroporto que serve Stockholm, percorrendo os cerca de 40km que os separam em 20 minutos.


Chego ao balcão e peço um bilhete, que com desconto de estudante custa 110 SEK (220 SEK custa um bilhete de adulto sem desconto). Aí deparo-me com um problema: é que só tinha 104 kronor e não queria levantar mais dinheiro sueco e os meus cartões não estavam a ter muito sucesso para pagar coisas nas lojas. Expus o meu problema lá ao homem que me atendeu e ele, muito atenciosamente, levantou-se e dirigiu-se a uma pequena caixa de onde tirou umas moedas. Deu-mas, explicando que as pessoas "sometimes forget their change" e assim já pude pagar o bilhete e embarcar num comboio moderníssimo pequeno (tinha umas duas ou três carruagens) e estreitíssimo (no máximo 3m de largura) mas que atingia 200km/h, como se pode ver na fotografia.





Paisagem vista do comboio, sempre muito verde e alegre. Aproveito para ver as notícias transmitidas em inglês nas televisões do comboio. Chegando ao aeroporto, o comboio entra num túnel que corre por baixo dos terminais e cujas duas estações servem os terminais de vôos nacionais e de internacionais. Apeio-me no dos internacionais e subo as escadas para chegar ao meu terminal, numa mescla de excitação, orgulho, apreensão, liberdade. Consulto nos painéis electrónicos o meu vôo: é só daqui a umas horas. Faço o check-in electrónico (com a referência do meu bilhete electrónico e o meu número de passaporte e que até deu para escolher um lugar de janela!) e percorro, hesitante em como matar o tempo, o terminal, vendo para onde vão os aviões que dividem a pista com o que me há de levar para fora da Escandinávia mais uma vez, sem ser da vez em que a deixaria definitivamente.


Fotografias do aeroporto; todo ele feito de vidro e aço, muito simples e elegante. Enquanto escrevo apontamentos na Moleskine para mais tarde os transcrever para aqui, passam por mim 4 jovens em grupo que não teriam mais que a minha idade e que se parecem comigo: cheios de confiança neles próprios, mochilas às costas, sorriso nos lábios. E mais: de cada uma das suas mochilas, via-se o braço da guitarra wireless do Guitar Hero a espreitar para fora. Aí me ocorreu que já não precisamos de ser estrelas de rock ou de futebol para termos esta vida de numa semana visitar 4 cidades em 3 países diferentes, sempre a andar, sempre a viver. Agora já podemos fazê-lo com a mesma liberdade que os nossos pais com a nossa idade tinham para ir, digamos, jantar fora. Ainda a pensar nisto, dou por mim com fome e procuro onde almoçar. Nada me parece mais apropriado que o Sbarro's, restaurante que me fez as delícias quando visitei New York em plena Times Square. Aumenta o meu fascínio por toda esta facilidade de movimentos (restaurantes para aqui e para lá, amigos em toda a Europa, comboios que me levam a 200 km/h para a terra de ninguém - ninguém para me levar ao avião, ninguém para me esperar do lado de lá) e a pizza ainda me sabe melhor. Antes de me dirigir ao portão de embarque, decido passar pela capela para pedir que tudo corresse bem nesta viagem. A capela ecuménica era pequena e silenciosa, com Bíblias, o Corão e a Torah e onde se podiam acender velas por 10SEK. Como já não tinha dinheiro para isso, fico-me pelas intenções. Confiante de que tudo vai correr bem, abandono a capela. E é no fim de tudo isto e por isto mesmo, que de auscultadores nos ouvidos a ouvir Kings of Leon, de blusão e calças de ganga - qual estrela de rock - preparados para 5 dias sem parar e de pensar em tudo o que poderia correr mal e em como tudo iria correr bem, lá vai o Goga para o avião que o irá levar à Holanda.