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10.4.09

[Ventos de Nordeste] MSE

4. Amsterdam, por fim


09/10: Nijmegen -> Amsterdam (percurso de comboio inverso ao do dia anterior, chegada a Amsterdam Centraal)

Coldplay – Amsterdam

Acordo com a nítida sensação de desconforto e frio e demasiada luz no quarto e demoro até perceber que já não estou numa cama confortável em Stockholm – a melhor cama onde havia dormido até aí desde que saí de Lisboa – mas sim num colchão num quarto de um estudante Erasmus, longe de casa. Agora percebo como se sentem os amigos dos meus amigos que os vão visitar a Helsinki. Eu e o Óscar arranjamo-nos e vamos até ao mesmo centro de lojecas onde tinha estado na noite anterior para comermos qualquer coisa à laia de almoço. Vamos de bicicleta: ele a pedalar, eu no suporte para carga atrás, à pendura – algo ilegal na Holanda, mas bastante comum. Assim que chegamos, ele tranca a bicicleta com 2 cadeados e fica incrédulo quando lhe conto que em Helsinki ninguém – ou quase – ninguém tranca as bicicletas. Andamos pelos corredores a escolher pão e coisas para o encher e desta vez quem fica espantado sou eu, perante os preços ridículos comparados com os da Finlândia. Dá vontade de perguntar porque é que não é tudo assim em todo o lado... Almoçamos num parque e voltamos para casa para pegar nas mochilas e encontrarmo-nos com os outros. Perante os atrasos de uns e outros, metade do grupo foi andando de autocarro para a estação de comboios.

Todos reunidos de novo, compramos os bilhetes para Amsterdam Centraal enquanto que o Óscar compra para Schiphol pois vai apanhar um voo para Budapest ter com o irmão que está lá a fazer Erasmus também. Viagem tranquila sem muito para fazer senão matar tempo com estórias de aqui e ali, de países longínquos e próximos, de tempos passados e futuros.



O comboio abranda e entra na estação central. Recolhemos as nossas malas e saltamos para fora do comboio, deixando que o João nos orientasse pela estação, já que já lá tinha estado no Verão, quando tinha feito o interrail.


Uma vez nas ruas, consultamos um mapa que retiramos de um ponto de turismo e procuramos a rua onde fica o nosso hostel. De acordo com as informações retiradas do site onde tinha feito as reservas, o hostel ficava perto do Grasshopper, uma das primeiras coffeeshops da cidade. Descemos ao longo do canal paralelo à Damrak e lá encontramos o edifício verde, emblemático da zona.





Chegamos então ao Travel Hotel, o nosso hostel. A centralidade é a melhor característica, sendo que o preço e a limpeza são bastante aceitáveis, mas as pessoas não foram lá muito simpáticas. Não obstante, seria a nossa casa nos próximos dias e por isso mesmo lá fizemos o pagamento da reserva e o check-in. Como só há uma chave para o nosso quarto e a Inês já tinha chegado, subimos pelas escadarias íngremes e estreitas.


Batemos à porta e lá se abre, com a Inês a surgir com olhos de sono. Momento de alegria por estarmos todos juntos e de arrumarmos as coisas, enquanto ouvimos a epopeia dela: saiu de Paderborn, na Alemanha onde está a fazer Erasmus, bem cedo de manhã para chegar a Amsterdam horas antes de chegarmos. Fez o check-in no hostel e parte à descoberta para ir tirando fotografias e conhecer a cidade. Sorrio; seria exactamente aquilo que eu faria. Uma vez instalados e depois de inspeccionado o recinto, saímos para as ruas que recebem a noite e tudo o que ela traz.

Fazemos então as primeiras explorações pelo China District e pelo Red Light District que estão a duas ruas de distância do hostel. Somos rodeados de turistas e holandeses, velhos e novos, línguas conhecidas e desconhecidas, expressões familiares e pensamentos deixados para trás. Estamos numa cidade do mundo, numa rua onde provavelmente há mais nacionalidades diferentes que casas. Satisfeito por já ter chegado, envio mensagens para a família a reportar chegada segura e tranquila. Perante os estômagos que se remexem, decidimos procurar um sítio para jantarmos.

Decidimo-nos por um restaurante italiano baratucho cuja comida sabe a ouro. Animados por cima das pizzas e dos orégãos espalhados um pouco pela mesa toda, qual reminiscência de Tallinn, salta uma frase lapidar: “comer quando se tem fome é uma das melhores sensações do mundo!”. De barriga reconfortada e de espíritos elevados, saímos novamente para as ruas onde a noite, já instalada, reina entre as esquinas e as vielas, onde já pairam nuvens de fumo e música de bares e coffeeshops saem para as ruas, numa mescla de sons, cores, luz e escuridão e pessoas de todo o mundo. Tento lembrar-me de onde já vi isto, ou pelo menos, tanta animação e volto a lembrar-me de Atenas, onde há tanta gente nas ruas durante a noite como durante o dia.




Acabamos por escolher um bar onde ficamos a beber umas Heineken (pois claro) tranquila e pacatamente antes de voltarmos para casa. Comemos umas vlaamse frites numa friterie pelo caminho para reforçar o estômago antes de irmos para a cama descansar e restabelecer energias para os dias seguintes que vão ser curtos, mas que terão que ser longos.

10/10: Amsterdam

Coldplay – The Hardest Part

Há dois conselhos que são dados a quem visita Amsterdam: ter cuidado com os carteiristas e olhar sempre pelo ombro quando se atravessa uma estrada ou uma ciclovia, não se vá levar com uma bicicleta em cima. E também convém perceber quando é que as campainhas são tocadas para nós, não vamos inadvertidamente tentar sair do caminho de alguém para sermos atropelados por uma bicicleta que nem vinha contra nós...

Saímos do hostel para ir tomar o pequeno-almoço / almoço ao McDonald’s, o melhor amigo dos viajantes com pouco dinheiro. Há quem diga que esses restaurantes são iguais em todo o lado mas este... especial. Pombos esvoaçavam alegremente lá dentro, as filas eram tudo menos filas (mais um aglomerado de pessoas para ver quem conseguia chegar à frente primeiro) e o serviço não era lá grande coisa. Não consigo deixar de pensar que a ASAE iria gostar bastante de dar lá um saltinho...

Já alimentados, decidimos dar uma volta pelos canais e aproveitar o sol que vai aparecendo por entre as nuvens, criando uma luz estranha para as fotografias e dando uma sensação de calor agradável.








Descemos então a Damrak até à Dam, a praça central de Amsterdam onde fica situado o Palácio Real. Mais umas voltas e ficamos a conhecer pelos nomes as ruas principais e secundárias, habituando-nos a ver os canais e as pontes e a saber onde estamos em relação ao nosso hostel e aos pontos de referência. Com tantos museus e sítios para visitar, decido fazer o Amsterdam Card que me dá acesso a todos os museus culturais de Amsterdam enquanto eles decidem fazer o iamsterdam, que lhes dá acesso às “atracções”, como o Madame Tussaud’s e outros.





De cartões em punho, eu e a Maria João decidimos ir à Rembrandthuis, casa-museu de Rembrandt. Fascino-me com a tecnologia usada pelo pintor ao fazer primeiro esboços em placas de metal para depois imprimi-las num processo químico. A casa tinha sido restaurada para recriar o ambiente vivido pelo pintor e a sua família e os seus aprendizes e as camas-armário onde dormiam as pessoas intrigaram-me: se bem que os holandeses são, hoje em dia, dos povos mais altos, na altura (c.1650) não eram mas mesmo assim aquelas pequenas camas dentro de armários fazem-me pensar em como as pessoas tinham que dormir todas dobradas. Já a pensar nas dores de joelhos com que ficaria, seguimos para investigar o resto da exposição e os artefactos que o mestre da pintura holandesa foi recolhendo ao longo da sua vida: esculturas, livros, pergaminhos e fósseis de todo o mundo e culturas.



Saídos do museu e com tempo para matar, passamos num supermercado para comprar qualquer coisa à laia de lanche. A caminho da Dam, o ponto de encontro, passamos por uma lojeca onde se alugam bicicletas cujos folhetos informativos já tinha visto. Já tinha pensado em alugar uma bicicleta e decido ficar com uma delas. Escolho uma bicicleta holandesa, com travões a pedalar para trás. Tenho que escolher a mais pequena (de criança, mesmo) e mesmo assim fico com os pés acima do chão. Sei que é assim que é suposto andar-se de bicicleta, mas prefiro bicicletas em que consiga tocar com os pés no chão, em caso de emergência. A minha sorte é que aquelas bicicletas de criança daquela oficina não tinham as grinaldas e fitinhas que as bicicletas costumam ter das outras oficinas: seria bastante comum ver jovens asiáticos a andar em bicicletas verdadeiramente infantis, com um ar de vergonha até às orelhas.




Dou algumas voltas pela Dam para ver se me habituo aos pedais e à altura, mas demora algum tempo – o tempo suficiente para ser gozado por outros ciclistas holandeses. Para um país tão tolerante, demoram algum tempo a aceitar os outros... Aliás, nesta altura começo a pensar que as pessoas em Amsterdam são simpáticas mas bastante menos que no resto do país. Ao fim de algum tempo, decido ir para o hostel e estaciono a bicicleta em frente à porta e subo para o quarto, onde os meus amigos já se estavam a preparar para irmos jantar.

Nessa noite encontramo-nos com um amigo de Nijmegen que conhece um sítio bom para se jantar. Apanhamos um tram até à Leidseplein onde saímos para irmos jantar umas spare ribs por €12,50 ao Pancake Corner, um sports bar que tem mais de 100 televisões a mostrar vários desportos ao mesmo tempo. Comemos até não podermos mais e seguimos para o que a noite nos tem para oferecer.



Voltamos para a praça e decidimo-nos pelo Bulldog: um bar, discoteca e coffeeshop, tudo no mesmo edifício, em vários andares diferentes. Ficamos por lá uma vez que a música é boa, o sítio é simpático e consegue pedir-se uma cerveja ao balcão sem se demorar horas.


Ao fim de umas horas, é dada a hora de recolher. A noite e o dia já vão longos e ainda temos que ir a pé até à Beursplein, onde fica o nosso hostel. Vamos então seguindo as linhas de tram e ficamos a conhecer as ruas desertas de noite, estranhamente calmas. No dia seguinte veria essas ruas outra vez mas isso é estória para outro dia.


15.1.09

[Ventos de Nordeste] Rotinas

The Go! Team - Huddle Formation

Tenho saudades das rotinas. Saudades de acordar ao som do Awaken, de pôr no snooze mais dez minutos, de pôr as havaianas nos pés, dirigir-me à casa de banho e tomar um duche bem quente, da dificuldade que era sair da casa de banho e voltar a calçar as havaianas sem tocar com os pés (lavados) no chão (sujo). De vestir-me e pegar em barras de cereais que serviriam de pequeno almoço no metro (se estivesse a ir cedo para a Hanken) e de encontrar amigos com quem me ria das peripécias das noites anteriores.

Tenho saudades da rotina de almoço na Hanken ou na HSE ou no UniCafé ao pé da casa dos estudantes ou o do Administration Building, em frente ao ginásio, na Fabiankatu. E saudades das aulas em que a maioria dos estudantes éramos nós, de Erasmus, e o ambiente era descontraído e jovial, como se uma continuação da festa anterior ou uma ante-câmara da seguinte...

E das viagens de metro de volta para Harustie de quem não tinha que ficar na biblioteca a estudar ou a trabalhar em que se combinavam as tardes e noites mas uma prática que caiu em desuso perante o improviso a que nos dedicámos posteriormente e à alegria de aparecerem no nosso apartamento para uma cerveja que acabaria por levar sempre a mais outra, que seriam seguidas por alguém puxar de uma inconspícua garrafa de Schweppes.

UEFA Champions League Theme

E das grandes jogatanas que se faziam em Harustie e os tópicos no facebook onde fazíamos a contagem dos jogadores, onde os espanhóis Mendi (com as suas botas brancas) e o Perú (com a sua camisola do... Peru) dominavam a bola com categoria e o Fernando, por contraste, tinha sempre a infelicidade de marcar auto-golos, onde o Maciej (lê-se Machek) destruía tudo e todos com a sua "besteza" polaca e o Wybren dominava o jogo aéreo com os seus 1,95 m, onde o Diogo era a bala vestida de amarelo e que corria mais rápido que os outros com as suas perninhas e onde, se tivéssemos sorte, o Luca aparecia e mostrava porque é que a Itália é campeã mundial de futebol ou daquela vez em que o Ralf (alemão) veio e jogou que se fartou ("Today's MVP is Mr. Kellner!"). E outros, como os austríacos Herman e Stefan (Patakinho, essa promessa do futebol português!) ou o Côme e o Mael (franceses), o Radek (checo) e o Johan (sueco) que faziam número e jogadas impressionantes ou nem por isso, mas que concerteza não destoariam de uma autêntica final da Champions, excepto quando nevava e o campo ficava soterrado por um metro de neve e aí, então, era palco de grandes batalhas de neve.

Volbeat - I'm So Lonesome I Could Cry

A rotina mandava então todos para a sauna, ou no A ou no F building, e lá íamos, descansar, relaxar, beber umas cervejas e falar de tudo: raparigas, festas, viagens e o que quer que nos lembrássemos. E onde o Chris dominava o balde de água e os alemães apareciam vindos de sabe-se lá onde; onde o Alex cortou o pé a correr para a neve e o Eric gostava de se atirar de cabeça para sítios onde caísse ao lado de neve amarela, para que quem o seguisse...

E depois disso, duche rápido e jantar relâmpago com o Romain e por vezes o Rodrigo (se já tivesse voltado do seu trabalho na padaria), regado com uma ou duas cervejas e mais umas latas enfiadas nos bolsos ("These are my party pants and jacket: they can hold up to 6 cans of beer!") para irmos para casa do Rafa (mexicano), do Ralf e do Simon (alemão) jogar mau-mau, em jeito de 'pre-pre-party', onde invariavelmente alguém acabava por perder mais do que uma vez seguida e tinha que aceitar a penalização com um sorriso. A rotina começava a apresentar nuances nas pessoas que vinham jogar mas acabava sempre com alguém que perdia claramente (normalmente quem jogava pela primeira vez) e com o Florian (o barbudo) claramente a ganhar a toda a gente. E o Simon, sem dúvida impelido pelos seus deveres como anfitrião, que distribuía cartas alegremente a quem demorasse a jogar ou estivesse distraído no seu turno, aumentando as probabilidades de essa pessoa perder... e beber.

Guru Josh Project - Infinity (Klaas Vocal Edit)

E depois disso a festa prosseguia para a 'pre-party', quer no E building quer no apartamento das raparigas, um duplex no D building, onde viviam as 3 raparigas (Cynthia, Anabelle e Maria) e o fantasma holandês, de seu nome Séljine. E a rotina começava a desbotar as nacionalidades e os grupos onde quer que a festa fosse. No E building tínhamos sempre o Coco (o Côme já no seu alter-ego 'party mode' e que foi votado "The most crazy Erasmus" no jantar de despedida) a sair da janela da cozinha (um rectângulo que não tinha mais que 20x70 cm) para nos abrir a porta da área comum e a pôr o seu iPod com Daft Punk para o início da festa e Moby para o seu fim ou tantos frigoríficos para guardar bebidas, sendo que a varanda cheia de neve era o preferido. No apartamento das raparigas tínhamos a Cynthia e a sua playlist ("THE playlist!") e dois andares para fazer a festa.

E era nessas festas que por vezes apareciam os tutors (desde o Marcus e o Otto à Jutta e a Johanna) e as pessoas que viviam "at HOAS" - a Stella e a Eva (austríaca), as raparigas mexicanas e o Borja (espanhol de Barcelona mas adepto fervoroso do Real Madrid. Quando lhe perguntei se o Barcelona era o seu grande rival olhou-me perplexo e respondeu-me que obviamente eram os 'índios' - o Atlético) que vivia em Pasila. E nessas festas viam-se ao início as torres gémeas (o Wybren e o Johan) a dominarem a paisagem e grupos de nacionalidades mas lá para o fim o que se via era um grupo gigante que saudava quem entrasse pela porta como se de um irmão há muito não visto se tratasse e de onde saíam as maiores gargalhadas e memórias de Erasmus. E a rotina mandava que se vissem latas de inúmeras marcas diferentes de cerveja, consoante os gostos e as nacionalidades. Era frequente ver o Wybren com as suas Heineken, os alemães variavam entre a Lapin Kulta e a Koff, outros, geralmente os espanhóis, preferiam a Karhu e os que iam regularmente a Tallinn tinham as Saku. Estas latas costumavam ficar pelas casas onde as festas se faziam e cujo retorno dava 15 cêntimos cada aos proprietários das casa - uma espécie de imposto da festa. E as garafas de litro e meio de coca-cola, de plástico duro que davam 40 cêntimos de retorno, que normalmente alojavam mais do que Coca-Cola e as inúmeras garrafas de meio litro de água que tinham "orange juice, I'm telling you!" também faziam a sua presença.

E saudades ainda das corridas para o último metro para Helsinki às 23h12 ou então de apanharmos o autocarro e por vezes encontrarmo-nos com o pessoal da HSE que conhecemos na viagem à Rússia, vindo de Vuosaari, e chegados ao centro decidirmo-nos pelo baarikärpänen, pelo KY ou pelo Onnela se não houvesse festa na Casa.

Rotinas neste bares e discotecas seriam sempre e invariavelmente pagar 2 euros pelo bengaleiro e puxar do Silver Card, cartão que nos permitia ter desconto em cervejas e algumas bebidas. E rirmo-nos e dançarmos e bebermos e divertirmo-nos, tudo isto era rotina. E era aqui, já em Dezembro, que as lágrimas saltavam dos olhos das raparigas e os abraços dos rapazes duravam mais uns segundos e eram mais fortes e "não é adeus, é até à próxima!".

Booka Shade - In White Rooms

E depois era sair das festas e passar pelo McDonald's de Kamppi ou de Rautatientori para comer um duplo cheeseburger ou aguentar pelo autocarro das 4 da manhã (evitávamos o 90N que demorava mais tempo e apanhávamos o 96N que era bem rápido - e onde eu adormeci uma vez e perdi a minha estação) que custava 4 euros e era o último transporte de Helsinki até ao metro abrir às 5h15 aos dias de semana e às 6h30 ao fim de semana. E a rotina, para os que ainda tinham fôlego, era ir para a 'after-party' no E building onde a Olga (espanhola), a Caroline e a Anna (russa) disponibilizavam a sua cozinha e o Luca presenteava-nos com um spaghetti alla bolognese ou no D building, onde as raparigas faziam pão de alho no forno. E era também, para quem ainda não se quisesse render à noite, altura de subir aos telhados (era perfeitamente seguro!) destes prédios - ideia do Coco, claro. E foi numa das últimas noites em que se subiu aos telhados que vimos a cidade ao longe, brilhante e viva na noite escura à esquerda, as árvores gigantes e imponentes que ficavam para lá do campo de futebol atrás de nós, as luzes brilhantes de Vuosaari à direita onde pontificava um prédio que teria os seus 30 andares e à nossa frente a baía gelada.

E aí a rotina acabava com ir para casa e a despedirmo-nos nos carreiros do parque de Harustie 7, com cada um a seguir para o seu prédio e apartamento, para a sua cama e para os seus sonhos e para o dia seguinte. A rotina incluía ainda um relance rápido nas notícias desse dia se para tal ainda houvesse forças e depois deitar-me na cama onde acordaria no dia seguinte, para mais um dia, para mais uma noite.

29.10.08

[Ventos de Nordeste] Nada mais interessa



Depois de saber que tive 46 em 50 no Mellantentamen (exame intermédio) de Sueco, 47 em 50 no exame final de International Business (acabando com 83,5%, ou seja, 16,7, arredondando para 17), depois de ter visitado a vila do Pai Natal e atravessado o Círculo Polar Árctico, nada disso interessa depois de uma sauna (que já não ia desde que parti para a MSE) revigorante a seguir a ter recebido ainda melhores notícias.

Nada mais interessa.

19.10.08

[ventos de Nordeste] Adaptação e aprendizagem



Com o tempo, adaptamo-nos a tudo. Adaptamo-nos às temperaturas adversas, aos horários diferentes, aos preços das coisas boas nos supermercados e às coisas menos boas a que já nos adaptámos a comprar e comer todos os dias, a ouvir K e P por tudo o que é palavra na língua finlandesa, a falar Inglês a toda a hora que já começo a pensar e a sonhar nessa língua...

E aprendemos os pequenos truques que nos fazem adaptar mais facilmente. Aprendo que a melhor altura para lavar a roupa é no Domingo à noite, então adapto as minhas rotinas para que calhe todo o ritual de lavar a roupa no fim do fim de semana. Adapto-me aos horários para se fazer o jantar: sou quase sempre o último a cozinhar e a comer. Adapto-me à faculdade fechada ao fim de semana e procuro e encontro cafés para ir estudando. Aprendo a olhar pela janela e perceber se devo levar luvas, cachecol ou ambos. Aprendo a prever quando posso levar o casaco ou quando tenho que levar o impermeável.

Adapto-me à hora em que o sol baixa (cada vez mais cedo) e adapto-me às 8 horas de luz por dia. Aprendo a viver num país em que as pessoas conseguem viver com escuridão, frio e pouco mais no Inverno e adapto-me a ele.

Mais do que aprendo na Hanken ou nas conversas com os amigos, aprendo realmente a saber adaptar-me quando me lembro do que já aprendi aqui sozinho.

18.9.08

[Ventos de Nordeste] Meandros e momentos finlandeses


Natural Calamity - Dark Water & Stars

Se há coisa que os Finlandeses gostam (para além de sauna, Natureza, falar sobre o tempo, telemóveis, hoquéi no gelo e beber muito álcool), é das suas cottages. Pequenas casas nos infindáveis bosques normalmente situadas junto de um lago ou mar, para onde quase todos se escapam com a família quando chega o fim de semana. Ora, o Exchange Committee que tão bem nos tem tratado, decidiu que essa seria uma das actividades finlandesas que nós não podíamos perder. Fomos todos então, no sábado de manhã para uma cottage perto de Porvoo / Borgå (lê-se Borgo - como em burgo, cidade), pequena cidade medieval 50 km a leste de Helsinki. 


Lá, fizemos alguns jogos antes de almoço (para encher chouriço), incluíndo um engracadíssimo: um jogo de futebol, onde todos os jogadores tinham que ter a visão tolhida por dois rolos de cartão, como se fossem binóculos. Como podem ver pela fotografia, eu estava em grande forma, e até estava a salvar um golo em cima da linha. Depois ainda fui a tempo de marcar um golo na segunda parte, o que nos garantiu uma vitória por 5-3! Grande futebolada, para abrir o apetite...


Depois de almoco, explorámos um bocado (cada um por si ou em pequenos grupos) a floresta e a costa, já que não estava nada programado para a tarde. Mas todos fomos derivando para a "praia" e a plataforma que servia de doca e prancha de mergulhos, onde aproveitámos um sol de Verão pouco comum por estes dias e preguiçámos a tarde toda.



Ao jantar, mais um sitz, tradicão sueca: muita comida, muita bebida e muita cantoria. Enfim, muita diversão. Após isto, a verdadeira tradicão finlandesa: a sauna! As raparigas foram primeiro, das 22h00 às 23h30, para depois ser o turno dos rapazes, entre as 23h45 e a uma. Nada mais revigorante que estar a suar que nem uma baleia num ambiente de 80 graus para depois ir dar um mergulho rápido ao mar - a temperatura do ar era algo como 5 graus e a água estava a 10-12 graus. E, como é óbvio, os verdadeiros finlandeses fazem isso nus, portanto também nós o fizemos!

Depois disto, continuou a animacão com uma discoteca improvisada para os mais resistentes - a esta hora uns quantos já tinham pendurado as botas. E só mesmo para os que continuaram uma prestação de altíssimo nível, sauna depois da festa. Sim, sauna às 3h30 da manhã. Escusado será dizer que no dia a seguir, ao pequeno almoço (e sim, tio, só dormimos umas 5 horas), todos estavam totalmente ensonados ou totalmente constipados. Eu não me inseria em nenhuma das categorias porque, bem... não sei porquê. Parece que os Portugueses são de têmpera rija. Depois do pequeno almoço e das arrrumações, voltámos para Helsinki e para casa.

Bush - Warm Machine

Para não acharem que eu ando aqui só na boa vida (não que não seja verdade - a boa vida, isto é), esta semana entreguei um paper para a cadeira de International Business. Tinha que analisar o caso de uma companhia finlandesa, a Lumene, que exporta cosméticos para a Rússia e Estados Unidos e depois ainda tive que fazer a discussão do caso num seminário. Trabalho muito exigente por uns dias, depois tem sido business as usual.

Ao mesmo tempo, temos tido muitos aniversários: a Linda, letã na terça passada, o Romain, meu room-mate e um dos meus melhores amigos nessa quinta feira e um dos Florians (alemães), o de barba, logo na sexta a seguir. Esta semana, foi a vez da Emiline, francesa, também na terça. Muitas razões para festejarmos!

Josh Radin - Winter

Frio, muito frio. Em Setembro, o que não é normal para ninguém que não os Nórdicos. Noutro dia chegou ao ponto de estarem 3 graus em Helsinki a meio da tarde. Enfim... Toda a gente continua a dizer que este foi um Verão muito frio e as opiniões dividem-se: se vamos ter um Inverno suave ou rigoroso. Há quem diga que em Outubro vai comecar a nevar em Rovaniemi e ainda antes de Novembro em Helsinki. Há quem afirme, por outro lado, que não neva aqui antes de Dezembro. Independentemente disso, sei que a partir do fim de Novembro os dias vão ter 4 horas, portanto se neva ou não, acaba por se tornar irrelevante...

Adriana Partipim - Fico Assim Sem Você

Bebés: geralmente uma coisa engracada de se ver, aqui ainda mais. E explico porquê. Aqui, as criancas são como os adultos, loiros, grandes e calados. Até agora, e sem contar com os bebés filhos dos imigrantes, todos os bebés que vi eram grandes, gordos e loiros e bastante sossegados nas suas cadeirinhas que mais parecem tanques. As cadeiras aqui são cobertas por um tecido impermeável (para não deixar entrar a chuva) e reforcadas com mantas (para não deixar entrar o frio). Já a salvo dos elementos, os bebés podem então descansar e dormir ou então brincar nas suas mesas de actividades - sim, as cadeiras têm mesas de actividades. É normal ver um bebé a brincar com o biberão cheio de leite (claro) ou com outra coisa qualquer na mesinha que passa por cima dos seus joelhos. Algumas até têm um volante... Agora entendo o porquê da Finlândia ter tantos pilotos famosos (Tommi Mäkinen, Juha Kankkunen, Mika Häkkinen, Kimmi Räikkönen, ...).

Ah, e não é possível andar de metro sem se verem pelo menos uns 3 bebés. Alguns casais até andam com dois ao mesmo tempo: um com um ano de idade e outro aí com uns 3 meses. Bastante diferente do que se passa em Portugal, infelizmente. E sim, isto é uma pequena indirecta às saudades que tenho da Ticas...

The Solids - Hey Beautiful

Séries, o melhor amigo do estudante erasmus. Porque, apesar das festas, apesar das aulas, apesar das conversas no skype com amigos e família, apesar das futeboladas e ginásio, há sempre horas para matar. E as séries que mais tenho visto (ou melhor, as únicas que tenho visto, até porque ainda só descarreguei estas) foram a grande favorita aqui de todos, How I Met Your Mother, mas também Pushing Daisies, Supernatural e The Lost Room, que só tinha visto um episódio em Lisboa antes de vir, mas chamou-me à atencão. Boas horas em frente do Mac no meu quarto, a salvo do frio e chuva que lá fora assolam o bairro de Harustie.

11.9.08

[Ventos de Nordeste] - Apontamentos e Considerações

Bloc Party - Flux


3 apontamentos:

1. Se eu andar na rua a uma determinada hora (digamos, às 11h15) como ontem, na Runeberginkatu (a que liga a estação de Kampi à Hanken), posso parecer alto. E explico as minhas razões para pensar assim: a essa hora, todos as crianças estão nas aulas; todos os jovens adultos estão ou nas aulas da faculdade ou no emprego. Então, quem anda na rua a essas horas são, principalmente, os idosos (que são baixos para a média finlandesa ou que já começaram a minguar) e os turistas, que não são nórdicos. Assim, é possível para mim, que já sou baixo para os padrões portugueses, parecer alto na Finlândia.

2. Continuando na senda da altura: os funcionários da cantina da Hanken, onde tenho almoçado todos os dias por 2,20€, devem achar que eu ou estou em crescimento ou então estou sub-nutrido. E é por isso que dia após dia continuam a servir-me doses industriais de strogonoff de porco, fatias gigantes de pizza, quilos de massa e litros de sopa. Para que eu cresça mais um bocado, se calhar. Só se for para os lados... (não se preocupe mãe, também como sempre um prato de salada)

3. Os ginásios universitários de Helsinki funcionam muito bem. Por apenas 40€ tenho três meses de acesso a quaisquer instalações. Costumo ir ao da Administration Building, que fica na cave do edifício dos serviços administrativos da Helsingin Yliopisto (Universidade de Helsínquia ou Helsingfors Universitet). Depois de exercícios nas máquinas, vou à sauna e costumo fazer o mini-ciclo: 5 minutos, duche de água fria, 3 vezes. O ciclo normal são 15 minutos.


2 considerações:

1. Receber encomendas de casa é óptimo. Não só se tem a satisfação de chegar a casa e ver o que veio (camisolas de , bolachas e um impermeável na primeira remessa, a título de exemplo), mas ainda a de se andar na rua com pacotes e ver os olhares de inveja das outras pessoas. Enfim, um Natal mais cedo.

2. Lavar a roupa, o grande papão dos alunos Erasmus daqui. Mas, mal ou bem, lá consegui fazer duas máquinas: uma de roupa escura e outra de roupa clara. E saiu bem, claro.