10.4.09

[Ventos de Nordeste] MSE

4. Amsterdam, por fim


09/10: Nijmegen -> Amsterdam (percurso de comboio inverso ao do dia anterior, chegada a Amsterdam Centraal)

Coldplay – Amsterdam

Acordo com a nítida sensação de desconforto e frio e demasiada luz no quarto e demoro até perceber que já não estou numa cama confortável em Stockholm – a melhor cama onde havia dormido até aí desde que saí de Lisboa – mas sim num colchão num quarto de um estudante Erasmus, longe de casa. Agora percebo como se sentem os amigos dos meus amigos que os vão visitar a Helsinki. Eu e o Óscar arranjamo-nos e vamos até ao mesmo centro de lojecas onde tinha estado na noite anterior para comermos qualquer coisa à laia de almoço. Vamos de bicicleta: ele a pedalar, eu no suporte para carga atrás, à pendura – algo ilegal na Holanda, mas bastante comum. Assim que chegamos, ele tranca a bicicleta com 2 cadeados e fica incrédulo quando lhe conto que em Helsinki ninguém – ou quase – ninguém tranca as bicicletas. Andamos pelos corredores a escolher pão e coisas para o encher e desta vez quem fica espantado sou eu, perante os preços ridículos comparados com os da Finlândia. Dá vontade de perguntar porque é que não é tudo assim em todo o lado... Almoçamos num parque e voltamos para casa para pegar nas mochilas e encontrarmo-nos com os outros. Perante os atrasos de uns e outros, metade do grupo foi andando de autocarro para a estação de comboios.

Todos reunidos de novo, compramos os bilhetes para Amsterdam Centraal enquanto que o Óscar compra para Schiphol pois vai apanhar um voo para Budapest ter com o irmão que está lá a fazer Erasmus também. Viagem tranquila sem muito para fazer senão matar tempo com estórias de aqui e ali, de países longínquos e próximos, de tempos passados e futuros.



O comboio abranda e entra na estação central. Recolhemos as nossas malas e saltamos para fora do comboio, deixando que o João nos orientasse pela estação, já que já lá tinha estado no Verão, quando tinha feito o interrail.


Uma vez nas ruas, consultamos um mapa que retiramos de um ponto de turismo e procuramos a rua onde fica o nosso hostel. De acordo com as informações retiradas do site onde tinha feito as reservas, o hostel ficava perto do Grasshopper, uma das primeiras coffeeshops da cidade. Descemos ao longo do canal paralelo à Damrak e lá encontramos o edifício verde, emblemático da zona.





Chegamos então ao Travel Hotel, o nosso hostel. A centralidade é a melhor característica, sendo que o preço e a limpeza são bastante aceitáveis, mas as pessoas não foram lá muito simpáticas. Não obstante, seria a nossa casa nos próximos dias e por isso mesmo lá fizemos o pagamento da reserva e o check-in. Como só há uma chave para o nosso quarto e a Inês já tinha chegado, subimos pelas escadarias íngremes e estreitas.


Batemos à porta e lá se abre, com a Inês a surgir com olhos de sono. Momento de alegria por estarmos todos juntos e de arrumarmos as coisas, enquanto ouvimos a epopeia dela: saiu de Paderborn, na Alemanha onde está a fazer Erasmus, bem cedo de manhã para chegar a Amsterdam horas antes de chegarmos. Fez o check-in no hostel e parte à descoberta para ir tirando fotografias e conhecer a cidade. Sorrio; seria exactamente aquilo que eu faria. Uma vez instalados e depois de inspeccionado o recinto, saímos para as ruas que recebem a noite e tudo o que ela traz.

Fazemos então as primeiras explorações pelo China District e pelo Red Light District que estão a duas ruas de distância do hostel. Somos rodeados de turistas e holandeses, velhos e novos, línguas conhecidas e desconhecidas, expressões familiares e pensamentos deixados para trás. Estamos numa cidade do mundo, numa rua onde provavelmente há mais nacionalidades diferentes que casas. Satisfeito por já ter chegado, envio mensagens para a família a reportar chegada segura e tranquila. Perante os estômagos que se remexem, decidimos procurar um sítio para jantarmos.

Decidimo-nos por um restaurante italiano baratucho cuja comida sabe a ouro. Animados por cima das pizzas e dos orégãos espalhados um pouco pela mesa toda, qual reminiscência de Tallinn, salta uma frase lapidar: “comer quando se tem fome é uma das melhores sensações do mundo!”. De barriga reconfortada e de espíritos elevados, saímos novamente para as ruas onde a noite, já instalada, reina entre as esquinas e as vielas, onde já pairam nuvens de fumo e música de bares e coffeeshops saem para as ruas, numa mescla de sons, cores, luz e escuridão e pessoas de todo o mundo. Tento lembrar-me de onde já vi isto, ou pelo menos, tanta animação e volto a lembrar-me de Atenas, onde há tanta gente nas ruas durante a noite como durante o dia.




Acabamos por escolher um bar onde ficamos a beber umas Heineken (pois claro) tranquila e pacatamente antes de voltarmos para casa. Comemos umas vlaamse frites numa friterie pelo caminho para reforçar o estômago antes de irmos para a cama descansar e restabelecer energias para os dias seguintes que vão ser curtos, mas que terão que ser longos.

10/10: Amsterdam

Coldplay – The Hardest Part

Há dois conselhos que são dados a quem visita Amsterdam: ter cuidado com os carteiristas e olhar sempre pelo ombro quando se atravessa uma estrada ou uma ciclovia, não se vá levar com uma bicicleta em cima. E também convém perceber quando é que as campainhas são tocadas para nós, não vamos inadvertidamente tentar sair do caminho de alguém para sermos atropelados por uma bicicleta que nem vinha contra nós...

Saímos do hostel para ir tomar o pequeno-almoço / almoço ao McDonald’s, o melhor amigo dos viajantes com pouco dinheiro. Há quem diga que esses restaurantes são iguais em todo o lado mas este... especial. Pombos esvoaçavam alegremente lá dentro, as filas eram tudo menos filas (mais um aglomerado de pessoas para ver quem conseguia chegar à frente primeiro) e o serviço não era lá grande coisa. Não consigo deixar de pensar que a ASAE iria gostar bastante de dar lá um saltinho...

Já alimentados, decidimos dar uma volta pelos canais e aproveitar o sol que vai aparecendo por entre as nuvens, criando uma luz estranha para as fotografias e dando uma sensação de calor agradável.








Descemos então a Damrak até à Dam, a praça central de Amsterdam onde fica situado o Palácio Real. Mais umas voltas e ficamos a conhecer pelos nomes as ruas principais e secundárias, habituando-nos a ver os canais e as pontes e a saber onde estamos em relação ao nosso hostel e aos pontos de referência. Com tantos museus e sítios para visitar, decido fazer o Amsterdam Card que me dá acesso a todos os museus culturais de Amsterdam enquanto eles decidem fazer o iamsterdam, que lhes dá acesso às “atracções”, como o Madame Tussaud’s e outros.





De cartões em punho, eu e a Maria João decidimos ir à Rembrandthuis, casa-museu de Rembrandt. Fascino-me com a tecnologia usada pelo pintor ao fazer primeiro esboços em placas de metal para depois imprimi-las num processo químico. A casa tinha sido restaurada para recriar o ambiente vivido pelo pintor e a sua família e os seus aprendizes e as camas-armário onde dormiam as pessoas intrigaram-me: se bem que os holandeses são, hoje em dia, dos povos mais altos, na altura (c.1650) não eram mas mesmo assim aquelas pequenas camas dentro de armários fazem-me pensar em como as pessoas tinham que dormir todas dobradas. Já a pensar nas dores de joelhos com que ficaria, seguimos para investigar o resto da exposição e os artefactos que o mestre da pintura holandesa foi recolhendo ao longo da sua vida: esculturas, livros, pergaminhos e fósseis de todo o mundo e culturas.



Saídos do museu e com tempo para matar, passamos num supermercado para comprar qualquer coisa à laia de lanche. A caminho da Dam, o ponto de encontro, passamos por uma lojeca onde se alugam bicicletas cujos folhetos informativos já tinha visto. Já tinha pensado em alugar uma bicicleta e decido ficar com uma delas. Escolho uma bicicleta holandesa, com travões a pedalar para trás. Tenho que escolher a mais pequena (de criança, mesmo) e mesmo assim fico com os pés acima do chão. Sei que é assim que é suposto andar-se de bicicleta, mas prefiro bicicletas em que consiga tocar com os pés no chão, em caso de emergência. A minha sorte é que aquelas bicicletas de criança daquela oficina não tinham as grinaldas e fitinhas que as bicicletas costumam ter das outras oficinas: seria bastante comum ver jovens asiáticos a andar em bicicletas verdadeiramente infantis, com um ar de vergonha até às orelhas.




Dou algumas voltas pela Dam para ver se me habituo aos pedais e à altura, mas demora algum tempo – o tempo suficiente para ser gozado por outros ciclistas holandeses. Para um país tão tolerante, demoram algum tempo a aceitar os outros... Aliás, nesta altura começo a pensar que as pessoas em Amsterdam são simpáticas mas bastante menos que no resto do país. Ao fim de algum tempo, decido ir para o hostel e estaciono a bicicleta em frente à porta e subo para o quarto, onde os meus amigos já se estavam a preparar para irmos jantar.

Nessa noite encontramo-nos com um amigo de Nijmegen que conhece um sítio bom para se jantar. Apanhamos um tram até à Leidseplein onde saímos para irmos jantar umas spare ribs por €12,50 ao Pancake Corner, um sports bar que tem mais de 100 televisões a mostrar vários desportos ao mesmo tempo. Comemos até não podermos mais e seguimos para o que a noite nos tem para oferecer.



Voltamos para a praça e decidimo-nos pelo Bulldog: um bar, discoteca e coffeeshop, tudo no mesmo edifício, em vários andares diferentes. Ficamos por lá uma vez que a música é boa, o sítio é simpático e consegue pedir-se uma cerveja ao balcão sem se demorar horas.


Ao fim de umas horas, é dada a hora de recolher. A noite e o dia já vão longos e ainda temos que ir a pé até à Beursplein, onde fica o nosso hostel. Vamos então seguindo as linhas de tram e ficamos a conhecer as ruas desertas de noite, estranhamente calmas. No dia seguinte veria essas ruas outra vez mas isso é estória para outro dia.


2 comments:

Anonymous said...

venham lá as histórias do resto da viagem!

Anonymous said...

ai jorge que inspiração lê-lo :) bons tempos de outras paragens (para nós é melhor que temos o nosso goga já pertinho, mas acredito que as saudades sejam muitas)