7.4.09

[Ventos de Nordeste] MSE

3. Comboios na Holanda

08/10: Arlanda, Sverige -> Amsterdam Airport Schiphol, Nederland (avião: voo SK 1555 da Scandinavian Airlines)

Kings Of Convenience – Sorry or Please

Chegados a Schiphol, levanto-me do meu lugar e tirando a mochila volumosa do compartimento superior ponho-me a andar. Oriento-me por entre as indicações em holandês e inglês e a impressão imediata com que fico é que o holandês não é assim tão diferente do alemão e até tem algumas semelhanças com o sueco. Sem muito para fazer e com alguma pressa (pois tinha planeado a viagem de comboio até Nijmegen à tabela), sigo para as saídas.

Nos tapetes para a recolha das bagagens há máquinas automáticas de venda de bilhetes de comboios, sinal de que os holandeses levam muito a sério os seus comboios. Ligo para os meus amigos para ter a certeza da estação em que devo sair. Recebidas as últimas instruções, compro o bilhete até Nijmegen e passo pela alfândega, em busca dos comboios.

O aeroporto de Schiphol é muito grande, com 3 terminais e imensas ramificações de onde partem aviões de passageiros e de carga para todo o mundo. De todos os aeroportos que já passei e que me lembro, este deve ser dos maiores, só comparável ao de Frankfurt e ao de Madrid-Barajas desde que o novo terminal foi inaugurado. Fico impressionado com a facilidade de movimentos das pessoas por entre tantas lojas, cafés, restaurantes, terminais, ligações de voos (os balcões para fazer o check-in de ligação são raros e as pessoas são encorajadas a fazê-lo nas máquinas existentes para o efeito) e deixo que as indicações para a estação de comboios me levem sem discutir.

A estação de comboios de Schiphol é dentro do próprio aeroporto e só se precisa de atravessar as portadas para se perceber o grau de integração de transportes na Holanda. Inúmeras escadarias descem para os túneis das linhas que ligam o principal aeroporto da Holanda a todo o país e ao estrangeiro (Alemanha, Bélgica, França e Luxemburgo). Procuro a linha para Utrecht e desço para o respectivo túnel.

Schiphol -> Nijmegen (comboios InterCity: 17h44 nas linhas 1-2 para Utrecht Centraal. Chegada a Utrecht às 18h17 na linha 15; 18h23 na linha 14 para Ede-Wageningen. Chegada a Nijmegen às 19h21 na linha 3b)

As horas dos comboios descritas acima são as que tinha retirado do site da Nederlandse Spoorwegen (a CP lá do sítio). Tinha planeado apanhar os comboios todos meia hora mais tarde mas como me despachei mais depressa do que julgava acabei por estar à frente do meu horário. Hesitante entre apanhar o comboio para Utrecht e ver no que dava ou esperar meia hora para ficar de acordo com o plano, deixo que o impulso me empurre para dentro do comboio e esperar que as ligações se mantenham.

Procuro um lugar para me sentar e, sempre com a minha mochila debaixo de olho, acabo por arranjar um lugar à janela, onde fico a ver a paisagem verde espraiar-se. Não é o mesmo verde que o da Suécia umas horas antes, até porque o sol começa a descer no horizonte. A minha primeira impressão destes comboios é que facilmente poderiam ser os comboios suburbanos de Lisboa: silenciosos, cheios mas sossegados. As pessoas não são tão indiferentes aos companheiros de viagem como na Finlândia, mas dão espaço e privacidade suficientes para que se faça uma viagem tranquila.

Oiço, por cima da música que toca alegremente no meu iPod (omnipresente, como é óbvio), qualquer coisa sobre a próxima estação e leio no painel que se aproxima a estação de Amsterdam Bijlmer ArenA, estação que serve o estádio do Ajax, a Amsterdam ArenA. Como qualquer adepto de futebol, não fico indiferente à presença do estádio de um dos clubes mais emblemáticos do futebol mundial que nos trouxe jogadores como Cruijff, van Basten, Bergkamp, entre outros.




Saio em Utrecht à hora prevista nas minhas contas (viagem de 32 minutos) e só preciso de andar 2 metros para mudar de linha e esperar uns minutos para que chegue o comboio que me leverá à próxima etapa desta saga. Entro no comboio que chega à tabela e vejo o verde escurecer com o avançar do dia. Atravesso cidades pequenas e grandes, vilórias desconhecidas e pontes sobre rios largos e pequenos. As pessoas vão entrando e saindo, sem grandes confusões, e vou escrevendo na moleskine apontamentos para eventualmente os escrever aqui. Já muitas músicas tocaram nos auscultadores, devo estar a chegar. O comboio começa a travar ao atravessar Nijmegen-Lent e a próxima estação deve ser a minha. Oiço Nijmegen e, como eu, muitas pessoas levantam-se e dirigimo-nos para a saída. Contente por ter acertado nas minhas previsões e por saber que me consigo orientar em 3 países diferentes tão facilmente, saio da estação e procuro a estação de autocarros.

The Doors – Alabama Song (Whiskey Bar)

Na estação de autocarros, espero pacientemente na linha J pelo autocarro nº 6 que me levará a Malvert. Os autocarros em Nijmegen têm um monitor onde está a lista de paragens mas o deste não estava a funcionar. Tive então que perguntar ao condutor pela paragem de Vossendijk que não existia mas lá dei por mim a sair do autocarro com um casal de velhinhos muito simpático que me apontam a direcção de Vossendijk. Deixo-os ir à vida deles e aguardo numa espécie de centro comercial. Mensagem para os meus amigos a dizer que já estou no sítio combinado e começo a ouvir vozes familiares, vozes portuguesas.

Encontro-me então com o Sérgio, a Sofia, o João e o Óscar e, como bons portugueses, fazemos uma grande festa ali mesmo no meio das ruas vazias; tinham ido fazer as compras para o jantar de mais logo e aproveitaram para me apanhar. Os três rapazes estão a fazer Erasmus em Nijmegen; a Sofia, namorada do Sérgio, está em Bruxelas mas, como eu, veio para a Holanda porque são os anos do Sérgio à meia-noite. Vamos para os apartamentos onde vivem e fico a conhecer uma realidade de residências Erasmus bem diferentes da minha: os prédios, de imensos andares, têm um estacionamento de bicicletas (claro), cada andar tem dois blocos fechados por portas com fechadura e apenas quem tem a chave pode entrar. Cada bloco tem um espaço comum com uma cozinha e uma sala e casas de banho também comuns. Cada quarto tem um chuveiro próprio com um lavatório e uma janela enorme com vista para o parque, onde ao fundo se vê a Radboud Universiteit de Nijmegen.


Conheço ainda a Maria João, a namorada do João, e o Tommi (italiano), o Clément (francês) e o Jason (americano) que se juntam a nós para festejarmos os anos do Sérgio. Aqui e ali, todas as festas Erasmus são iguais: o simples facto das pessoas serem de países diferentes (e nem assim tão diferentes) dá azo a muita conversa e muita animação. E também poder falar português com tanta gente ajuda... A noite avança e o cansaço acumula-se. Em 3 dias, já tinha viajado de tram, barco, comboio, avião e autocarro e as pestanas pesam e as pernas doem. Há ainda tempo para roubar um colchão da área comum para levar para o quarto do Óscar, onde durmo para recuperar as energias. É que no dia seguinte novas viagens de comboios esperam-me, desta vez com destino a Amsterdam.

1 comment:

Anonymous said...

não sei como é que depois de uma experiência assim se consegue estar tão calmamente a viver o resto da vida, cada-faculdade-casa...

venham lá os outros posts, sff!