11.4.09

[Ventos de Nordeste] MSE


5. Fietsen in Amsterdam

11/10: Amsterdam

Kings of Leon - Charmer

Aproveito ter acordado mais cedo que os outros e vou a uma lojeca de internet ao lado do hostel. Ligo-me novamente ao mundo real e leio as notícias por alto e abro o e-mail para comunicar com a família e os amigos que por esta altura já voltaram a Helsinki... que longe que todos estão! Fico a saber que não tinha entregue um texto para Sueco mas agora já nada havia a fazer. Saudades para Lisboa e Helsinki, conselhos para Amsterdam e escrever no facebook para meter inveja a quem o vê.

Terminada a minha hora, volto ao quarto para encontrar alguns deles já prontos e decidimos partir em busca de um bom sítio para comer. Acabamos por encontrar uma pancake house perto do nosso hotel e esperamos que os outros venham ter connosco. Enquanto eles se decidem por um english breakfast, eu escolho uma panqueca gigante, com doce, gelado, fruta e chocolate. Comemos à grande e exageradamente: a garrafa de ketchup que seguro na mão tem 1 litro!




Com o estômago cheio e reconfortado, decido atacar os museus que me recomendaram: o van Gogh e o Rijksmuseum. Saltando para cima da bicicleta em frente ao hostel, desço uma muito tranquila Spuistrat até ao outro lado dos canais e perto do Vondelpark, um dos passeios mais agradáveis que já fiz.

Fietsen in Amsterdam (andar de bicicleta em Amsterdam, em holandês) junto aos canais calmos e debaixo das árvores ainda resistentes e verdejantes num dia ameno de Outono é das melhores experiências que já fiz e uma das coisas que guardarei mais ternamente desta viagem.

Com o tempo indeciso entre nuvens ou sol, mas com temperaturas estáveis e sem chuva, pedalo alegremente (parando de vez em quando para consultar o mapa e voltar para trás porque falhei uma curva) pelas ruas fechadas ao trânsito automóvel (e de bicicletas, mas como não passam peões, arrisco-me a passsar por lá).

Esta é uma experiência só minha, em que só eu é que ando por cá. Estou em Erasmus, experiência que muitos fazem mas isto só eu é que o faço. Isto ninguém me tira: ter-me lançado à aventura para Helsinki, para Stockholm, para Amsterdam. O meu Erasmus estava a ser uma gigante aventura e o que estava a receber em troca era muito mais do que aquilo que estava a arriscar.




O van Gogh, apesar de conter uma imensidade de obras, deixa um bocado a desejar porque me parece vazio e algo impessoal. Mesmo assim, emocionado pela história de vida do pintor, acabo por sair algo abalado. Monto a bicicleta estrategicamente estacionada mesmo em frente do museu (à campeão) e sigo para o Rijks.

O Rijksmuseum é o museu nacional holandês de arte e contém colecções dos grandes mestres da pintura holandesa. Quando lá fui estava em obras e algumas alas estavam fechadas mas ainda assim consegui ver através de pinturas, esculturas e peças de mobiliário e porcelana a história holandesa. Fiquei a conhecer mais sobre um país que me lembrava de ter estudado (no 9º ano...) mas que não sabia mais para além do que os livros de História me tinham dito.

Satisfeito por ter dado uma componente cultural à viagem, tornando-a agora multifacetada, vou ter com os meus amigos. Antes disso, páro num albert heijn (os supermercados lá do sítio) para comer qualquer coisa. Compro uma baguete sem nada (não tinha muito dinheiro comigo e não aceitavam cartões) e como-a rapidamente. Agora percebo porque é que os holandeses comem tanto e tantas vezes ao dia: estão habituados a isso porque andar de bicicleta abre imenso o apetite.




Faço agora a Spuistrat no sentido inverso para voltar ao hostel. Encontramo-nos todos e vamos jantar mais uma vez perto da Leidseplein a um restauranteco italiano onde comemos muito por muito pouco (começo a habituar-me a isto e a pensar porque é que em Helsinki não poderá ser assim também...). Acabamos a noite ali por perto e voltamos ao hotel para a última noite em que dormimos no hostel.

12/10: Amsterdam

My Bloody Valentine – Sometimes

Ao acordarmos para o último dia em Amsterdam, propomo-nos a um último objectivo: ver o maior número possível de coisas e fazer o maior número possível de coisas.

Depois de algumas voltas, vamos todos à Central Station despedirmo-nos da Maria João que vai apanhar um comboio para Schiphol onde a espera um voo para Lisboa, de regresso a Portugal, de regresso à vida real. Como já tínhamos feito o check-out do hostel, eles deixam as suas bagagens nos cacifos da estação mas eu decido ficar com a minha mochila.

Depois das despedidas, os meus restantes companheiros decidem dar mais umas olhadelas pelas vistas. Como me tinha levantado mais cedo que os outros e já tinha andado a passear mais um bocado, dá-me a fome e almoço no Burger King da estação, dando uso às senhas que tínhamos e que nos davam direito a um menu grande mais um duplo hambúrguer por apenas 4 euros e meio.

Depois de almoçar, a minha fiel bicicleta espera-me novamente em frente ao hostel no sítio do costume. Monto nela e neste momento já estou tão confiante que acabo por atender o telemóvel em andamento. Leva-me rapidamente ao Amsterdams Historich Museum onde passo rapidamente os olhos pela história de uma cidade que em muitos aspectos é bem mais avançada que todas as outras por onde já passei. Sem muito tempo para mais, saio de novo para a rua e para os últimos raios de sol de mais um dia bastante agradável, como se Amsterdam se estivesse a despedir de mim e só a querer dar-me boas recordações.

Depois do museu, tenho que ir devolver a bicicleta. Devolvida a minha companheira fiel de pedaladas e que nunca me deixou ficar mal, fico reduzido a mais um peão anónimo nas ruas de Amsterdam, por oposição ao ciclista anónimo que tinha sido mas que dava muito mais estatuto. A confiança em cima das duas rodas era tal que para o fim já era eu que tocava na campainha da bicicleta irritadamente quando alguém se atravessava na ciclovia.








Sempre a olhar para o ombro para não ser atropelado nem por carros nem por bicicletas, tiro fotografias às casas e à sua arquitectura peculiar: todas de estilos diferentes, todas tortas em relação umas às outras ao longo dos canais com janelas altas que reflectem a rua e os canais, deixando entrar toda a luz possível no que aparentemente é uma cidade tristonha e cheia de chuva. Dizem que a primeira impressão é a que conta; pois bem, Amsterdam será sempre para mim uma cidade solarenga e alegre.




Encontramo-nos todos outra vez na Central Station, desta vez para nos despedirmos da Inês que regressa à Alemanha, para a sua vida de Erasmus mas que não deixa de ser também a vida real na altura. Vou ter com eles ao Burger King (claro está) onde almoçam. Como a Inês ainda não tem bilhete, vou comprar com ela. O tempo fica apertado e acabamos por ir directamente para as linhas dos comboios internacionais e onde me despeço dela, com promessas de fotos para cá e para lá.

Volto ao Burger King para formarmos os últimos resistentes de Amsterdam: eu, a Sofia, o Sérgio e o João. Ficamos com aquela sensação de uma aventura que está a acabar, com o travo amargo de termos que partir mas também a satisfação mental de que estamos a voltar.

Saímos para as ruas onde a noite cai, onde as luzes se acendem e as pessoas falam mais alto e desmontam das bicicletas para chegarem a casa. Damos mais umas voltas para ainda ver tudo quanto nos é possível, mas ao fim de algum tempo temos que voltar para levar a Sofia ao seu comboio, que a leva a Bruxelas.

Ficam só a sobrar os rapazes e vamos, como homens que somos, jantar ao já sítio do costume (4 hamburgueres em pouco mais que 6 horas... já tinha referido que andar de bicicleta faz mesmo fome?). A Sofia faz uma aparição inesperada: parece que a partida tinha sido adiada por uma hora por causa de um problema qualquer na linha. O tempo passa e recapitulamos aventuras, viagens, dias e noites numa cidade do centro da Europa. O tempo passa e a Sofia acaba por ter que ir embora.

Acabamos por ficar finalmente só os três, com os estômagos consolados e com tempo para matar. Recebo uma chamada de Portugal a perguntar quando chego... se ainda nem parti, como posso já chegar? Ainda ficamos uma hora em Amsterdam até que eles se vão embora finalmente para Nijmegen, deixando-me sozinho na Central Station, aguardando o comboio que me levará para Schiphol, para a última etapa da minha saga.

Moby – My Weakness

Sozinho outra vez mas desta vez verdadeiramente sozinho, deixo-me ficar nos bancos em frente à minha linha, fazendo um balanço cuidadoso sobre onde seria melhor ficar as horas que me separam do meu voo: se na Central Station, se no aeroporto. Penso ainda em tudo o que fiz, em tudo o que vi, em tudo o que aprendi e como é que isso me mudava em relação à pessoa que tinha ficado em Helsinki, ao Diogo que não arriscaria ou ao Diogo que ficaria com os amigos de Erasmus em Stockholm e que já teria chegado a Helsinki, e que estaria confortável, com roupa lavada, estômago bem alimentado (com verdadeira comida) e bem descansado. Penso em tudo isto e concluo que valeu a pena. Valeu mesmo a pena...

Satisfeito mas desfeito, entro então no comboio que vai para o aeroporto, no comboio que me levará para um pouco mais perto de casa.


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