Quem estivesse na estação de metro de Rastila dia 6 de Outubro toda a manhã veria o curioso espectáculo de uma multidão de jovens, de aspecto obviamente estrangeiro, a levar consigo mochilas e bagagens para o centro de Helsinki. O que os motivaria? Bem, depois de despachadas as aulas, o almoço e os últimos mails enviados para famílias e amigos na Hanken, os Hankeits fizeram-se ao mar.

Pelas 16h45, no porto de Katajanokka, embarcámos no ferry que nos iria levar a Stockholm. A boa disposição imperava no seio deste grupo heterogéneo que incluía nacionalidades tão díspares como alemães e mexicanos, italianos e finlandeses, portugueses e russos, enfim, uma grande salada.

Embarcámos no M/S Gabriella, navio da Viking Line, que nos seus 12 decks incluí parqueamento de viaturas, cabinas, sauna com jacuzzi, salas de conferências, restaurantes, lojas, um super-mercado e tudo o mais que se possam lembrar que caiba num cruzeiro, estava lá. As nossas cabinas – obviamente as mais baratas – ficavam no último deck, debaixo do estacionamento dos carros e já bem debaixo de água.

Os meus companheiros de cabina e de quarto em Stockholm: o Rodrigo, o Romain e o Josué, também mexicano, com um mapa dos decks na parede. O nosso é o debaixo, o deck 2.
Death Cab For Cutie – A Lack Of Color
As cabinas eram pequenas mas funcionais, com dois beliches cujas camas superiores tinham cintos de segurança para que as pessoas não caíssem com as oscilações e uma pequena casa de banho e uma cortina a dissimular não uma escotilha mas… casco!
Depois de instalados, fomos para os conveses onde se podia sair para o exterior e vimos a saída de Helsinki com a difícil navegação por entre as ilhotas que rodeiam os portos. O vento fortíssimo que soprava na proa do barco empurrava-nos para trás e foi aí que pela primeira vez nesta grande viagem voei: bastava saltar e em plena elevação abrir o casaco que imediatamente éramos puxados para trás. Cheguei a recuar 2 a 3 metros só nesta brincadeira.

À falta de melhor fotografia, como as que um senhor finlandês nos estava a tirar em pleno vôo com uma câmara profissional e que não lhe chegámos a pedir pois desapareceu de vista, fica esta tirada pelo Rodrigo: é evidente o esforço que estou a fazer só para me manter direito!



Imagens do fim de tarde e início de noite que prometia. Depois de se comprarem bebidas e coisas para comer – provisões para o que se seguiria – fomos para a sauna no deck 6 onde pagámos 5 euros para ter direito a sauna, jacuzzi e muita, muita diversão.
Tranquilamente sentados numa sauna pequena num muito peculiar formato triangular, eu e os mexicanos (Rafa, Josué e Rodrigo) mais o Marcus, tutor finlandês, assustámo-nos quando o barco oscilou um bocado mais do que estávamos habituados e um grande barulho ribombou no casco. Perante o nosso sobressalto os dois homens que também estavam lá riram-se e explicaram que o barulho era normal pois estávamos ao nível da água e aquilo era a ondulação normal. Mais nos asseguraram que se o barco metesse água, demoraria dez minutos até chegar àquele deck, portanto podíamos aproveitar a sauna mais um bocado. Rimo-nos e lá nos apresentámos. Ficaram bastante interessados nos mexicanos (“Very far away from home, no?”) mas quando viram o Marcus falar sueco animaram-se:
- But aren’t you Finnish?
- Ja, men jag är en finlandssvenskar. (sueco para “Sim, mas eu sou um Finlandês falante de sueco.”)
- Oh, ok. I guess it’s not that bad! (Primeiro indício da viagem da grande rivalidade entre os dois países)
Lá nos explicaram que sendo um deles sueco e o outro dinamarquês se percebiam nas suas línguas (o sueco, o dinamarquês e o noruguês são mutuamente inteligíveis) e o dinamarquês até gozou o prato a dizer que percebia os outros mas que eles não o percebiam.
Saímos então da sauna e juntámo-nos aos outros que já ocupavam o jacuzzi. Ficámos por lá até sermos expulsos sem mais nem menos, porque já tínhamos excedido para lá do tempo a que tínhamos direito e até porque aquilo tinha que fechar.
Depois disso, fomos todos jantando aqui e ali e acabámos por ir ter ao último deck, onde havia um bar de karaoke e as raparigas já tinham tomado conta daquilo tudo. Sem dar por isso, já estava inscrito, com o Rodrigo e o Josué para cantarmos uma das poucas músicas espanholas que estavam nas listas.
Jarabe de Palo – La Flaca
Com as viagens até às cabinas para ir reabastecer de bebida ou só para trincar mais qualquer coisa, as pessoas foram-se separando em grupos espalhados pelos decks dos bares e bastava procurar num ou outro para descobrir grande animação protagonizada pelos Hankeits. Inconspicuamente eram passadas de mão em mão lata e garrafas de coca-cola e outras bebidas; a razão para isso era a mesma da de Helsinki: era proibido beber bebidas alcoólicas nos bares que não fossem compradas lá, por isso eram disfarçadas de refrescos. Admito que o plano não é muito engenhoso, mas ao fim de algum tempo já ninguém se importava com isso e era ver as pessoas dançar já com as pernas a tremer (“Why are you walking in curves?” – “Well, obviously it’s because I don’t have sea legs!”) mas nem por isso desmoralizadas.
E depois de muitas horas e de um dia longo, as pessoas foram recolhendo às cabinas e demos por nós a ser enxotados da discoteca que fechava. Fomos então para os corredores das cabinas à boa moda do botellón espanhol onde metemos conversa com outro grupo de estudantes. Ao fim de algum tempo e depois de ter encontrado os meus companheiros de cabina, foi a nossa vez de nos rendermos à ondulação e ao sono. Tempo ainda para ninguém conseguir descobrir como se apagava a luz de presença na cabina e de ainda fazer uma playlist no iPod que me iria acompanhar por 4 países antes de toda esta aventura acabar.