Chegando 2007 ao fim, podemos fazer o balanço musical destes últimos 12 meses.
Depois de em 2006 terem sido lançados grandes discos como First Impressions Of Earth dos The Strokes, Saturday Night Wrist dos deftones, The Hello dos Warren Suicide Carnavas dos Silversun Pickups, Black Holes and Revelations dos Muse ou ainda Sam's Town dos The Killers, estava gerada muita expectativa em torno de 2007. E essa expectativa não saiu gorada.
Desde o Rock até à música electrónica, praticamente todos os géneros musicais foram agraciados com excelentes trabalhos de músicos cada vez mais proeminentes. Faço então uma lista de todos os trabalhos essenciais (para mim) deste ano, sem ordem específica.

(electronica, dance)
Melhores músicas: Someone Great; All My Friends; Sound Of Silver
Espectacular trabalho de James Murphy que regressa em grande estilo, depois do disco de estreia homónimo. Ao combinar de forma bastante agradável (e surpreendente) guitarras com sintetizadores, Sound Of Silver cria todo um Universo de sensações e estímulos aos nossos sentidos. Um dos melhores discos alguma vez produzidos do seu género; este é daqueles que entrarão para a História, sem dúvida alguma.

Melhores músicas: Black Mirror; The Well And The Lighthouse; Neon Bible
Já havia referido este disco, e não é por acaso. Neon Bible transporta-nos para um mundo novo onde nos sentimos pequenos com a magnitude da sua beleza. Sentimos que todas as notas são tocadas especificamente para nos fazerem sentir algo, e provavelmente é verdade. Uma grande obra por parte de um dos melhores grupos de compositores dos últimos anos.

Melhores músicas: Sick, Sick, Sick; Suture Up Your Future; River In The Road

Melhores músicas: todo ele
Há uma razão para eu não especificar quais as melhores músicas deste disco. Simplesmente, porque não as há. Fantástico disco de estreia por parte deste duo francês, que segue as pisadas de outro. Estarão finalmente encontrados os sucessores dos senhores robóticos? Não que isso interesse muito, porque aconselho (obrigo, mesmo) a largar tudo o que se tem nas mãos e ouvir imediatamente este álbum. Façam o download, comprem-no, não interessa. O que interessa é que o ouçam. Mesmo.

(punk, indie rock)
Melhores músicas: Waiting For The 7.18; The Prayer; Hunting For Witches
Incluo-o porque estou indeciso, e em caso de dúvida gosto sempre de incluir e não excluir. As razões que ditam a minha indecisão são simples: depois de Silent Alarm que veio mostrar ao mundo que de Inglaterra vem melhor música que muita feita nos Estados Unidos, esperava-se mais. Esperavam-se depressões instantâneas ao som de Like Eating Glass, curadas logo de seguida com as guitarradas e batidas rápidas de Helicopter, ataques psicadélicos como os de She's Hearing Voices e Banquet, baladas como This Modern Love e Blue Light. Quer dizer, não se esperava um disco igual ao anterior, bem entendido. Mas esperava-se algo com a MESMA qualidade. A Weekend In The City não a tem, sejamos honestos. Mas tem alguma, e por isso, e por respeito também à banda de Essex, tenho que o referir. Por outro lado, depois de os ver tocar ao vivo por duas vezes este ano, no Coliseu dos Recreios e no Super Bock Super Rock, há alguma obrigatoriedade de os referir. Estão referidos; agora quer-se é que o próximo álbum seja melhor. Cá o esperaremos.

Melhores músicas: Goodbye To The Mother & Cover; Satan Said Dance; Some Loud Thunder
Para quem conhece a história destes rapazes, que enviavam por correio os seus próprios discos antes de ganharem alguma notoriedade, parece estranho que assim se passasse. Esta banda da Costa Leste dos Estados Unidos tem qualidade, muita mesmo. O seu regresso com Some Loud Thunder, depois de um disco de estreia homónimo, vem conquistar o seu espaço próprio no universo da música alternativa. Mesmo com a 'concorrência' de Neon Bible, este trabalho aguenta-se com bravura e firmeza: uma interessante abordagem com sonoridades muito próprias. Desde a batida electrizante que nos faz dançar de Satan Said Dance às guitarras ásperas em Some Loud Thunder (a música), passando pela canção de amor em Emily Jean Stock para a mulher do vocalista à melancolia de Goodbye To The Mother & Cover, este é um daqueles que não engana. Não é propriamente um disco alegre; mas um bom disco para ouvir quando se está com a cabeça cheia e se quer descansar.

Melhores músicas: It's Not Over Yet; Isle Of Her; Gravity's Rainbow
Bem, o que dizer destes britânicos? O seu toque de irreverência (e impertinência) ao criarem uma sonoridade que tanto se pode dançar como propicia o início de mosh em concerto veio dar um pontapé nos paradigmas que tínhamos. Uma banda na sua estreia tinha sempre uns bons singles, uma ou duas músicas que ficariam como hinos da sua carreira; uma boa banda criava músicas que toda uma geração se lembraria daqui a largos anos numa qualquer festa em que passassem. E depois há os Klaxons. Uma estreia fantástica e que nos faz esperar por mais. Só para terem uma noção do quanto representa este disco, digo apenas que ganhou o prestigiado Mercury Prize, um prémio para o melhor disco britânico do ano, batendo concorrentes como Arctic Monkeys e Amy Winehouse.

Queria ainda referir Sawdust dos The Killers. Um disco com b-sides de Sam's Town, raridades e algumas músicas novas (como a fantástica Tranquilize, que conta com a participação do histórico Lou Reed). Embora não um grande disco, um disco engraçado que vale a pena escutar com atenção.
Findo esta lista com um mea culpa: sei que não falei de Favourite Worst Nightmare dos Arctic Monkeys nem falei de Whatever People Say I Am, That's What I'm Not dos discos de referência de 2006. Isto acontece porque simplesmente nunca ouvi esses discos. Eu sei que parece uma falha grave (e sei que é) mas não o fiz (ainda) porque gosto de conhecer poucas bandas novas por ano. E este ano descobri muita coisa nova. Ficará para o ano.
Quero também referir aquele que, para mim, foi o grande momento musical do ano:
LCD SoundSystem - Yeah (Crass Version) tocada ao vivo no Festival Super Bock Super Rock dia 4 de Julho de 2007. Um orgasmo sensorial; penso que isto chega para descrever a loucura que se instalou no Parque do Tejo nessa noite.
Os grandes concertos a que assisti este ano:
LCD SoundSystem no SBSR em Julho;
Bloc Party no Coliseu dos Recreios em Maio e no SBSR em Julho;
The Gift na Queima das Fitas de Coimbra em Maio;
The Magic Numbers no SBSR em Julho (apesar de não ter estado com muita atenção);
Klaxons no SBSR em Julho e
The Jesus & Mary Chain no SBSR em Julho;
Arcade Fire no SBSR em Julho: tinha bilhete (passe de 4 dias) e até estava lá. Tinha acabado de assistir ao concerto dos Bloc Party e a minha boleia ia-se embora. Claro que tinha lá mais amigos mas todos os seus carros estavam cheios e não havia lugar para mim. Como ainda não conhecia Arcade Fire, pensei que não valia a pena da chatice de ter que voltar para casa de maneira desconhecida e por isso fui-me embora. Uma decisão que me arrependi quase imediatamente.
Clap Your Hands Say Yeah! no SBSR em Julho: para minha defesa, para além de ainda não os conhecer, actuaram a meio da tarde no dia de LCD SoundSystem numa altura em que, estando de férias, obviamente acordava a horas impróprias. Tenho pena, mas é uma daquelas coisas.
Arctic Monkeys (penso que em Julho) no Coliseu dos Recreios: mais uma banda que, por não os conhecer, não fui ver o seu concerto. E para adicionar à injúria, tinha um bilhete gratuito e muitos amigos meus foram ver esse concerto e tiveram a amabilidade de me dizer logo que perdi o grande concerto do ano. Enquanto agradeço a sua honestidade e candura, devo referir que o grande concerto do ano foi, sem dúvida, LCD no SBSR. Mas não interessa, foi mais um grande concerto que não vi. Por esta altura já devia ter a lição aprendida, mas não. Claro que não me lembro porque razão não fui ver, mas lembro-me perfeitamente (e persegue-me) que não era uma razão nada de especial. Foi mais uma daquelas coisas. Incorrigível, mas que para o ano se espera melhor atitude pela minha parte perante bandas desconhecidas.
Concluído o balanço deste ano musical, que nos trouxe coisas muito boas, coisas assim assim, coisas más e coisas que podiam (e deviam) ser francamente melhores, penso que podemos olhar com novos olhos (e escutar com novos ouvidos) o que aí vem. Seremos mais exigentes; afinal, este foi um ano de colheitas e qualquer coisa que venha aí tem a responsabilidade acrescida de ser pelo menos tão bom. Eu, pelo menos, sei que estarei mais aberto a novas sonoridades e que este ano há Rock In Rio Lisboa e Super Bock Super Rock. Por eles esperamos.