11.12.07

Razões ou Do Nome dos Príncipes

Há dias perguntaram a razão pela qual eu escolhi este nome para o blog, O Príncipe.

Imediatamente me veio à cabeça a História de Portugal, onde estamos repletos de figuras inspiradoras como D. João II, O Príncipe Perfeito e D. Duarte, O Rei Filósofo ou O Eloquente.

D. Duarte, que teve um curto reinado de 5 anos, fica na História Portuguesa como o filho mais velho de D. João I e que prosseguiu a política expansionista do seu pai para África. Uma das provas disto foi o constante apoio e financiamento ao seu irmão, o Infante D. Henrique, de forma a que Portugal pudesse continuar na senda de conquistas em África, como a de Ceuta em 14 de Agosto de 1415. Como membro da Ínclita Geração (os filhos de D. João I), tinha uma natureza filosófica. Escreveu tratados de assuntos tão díspares, desde política até montar a cavalo e vários livros de poesia. Coligia, na altura da sua morte, uma revisão do Código Civil de Portugal.

Creio que a melhor descrição deste Rei será a de Fernando Pessoa, na Primeira Parte da Mensagem, Brasão, III. As Quinas:

Primeira / D. Duarte, Rei de Portugal

Meu dever fez-me, como Deus ao mundo.
A regra de ser Rei almou meu ser,
Em dia e letra escrupuloso e fundo.
Firme em minha tristeza, tal vivi.

Cumpri contra o Destino o meu dever.
Inutilmente? Não, porque o cumpri.

Fernando Pessoa, das pessoas mais fascinantes que certamente já viveu, descreve assim como ele julga ter sido a personalidade de D. Duarte: um homem estóico, que se interessava certamente mais por outros assuntos que propriamente governar o Reino; mas, uma vez investido dessa responsabilidade, tomou o manto do Poder sobre os seus ombros e conduziu sabiamente os destinos do País. Morreu novo, da Peste, como os seus pais, mas certamente de consciência tranquila pelo seu dever ter sido cumprido. Note-se a homenagem que Fernando Pessoa lhe presta ao dizer que D. Duarte se manteve firme na tristeza de ser Rei, mas que o fez porque a isso estava fadado por Deus; o próprio Fernando Pessoa em que dentro de si lutavam diferentes personalidades e que certamente sofreria por isso.

D. João II ficou conhecido como o Príncipe Perfeito pela forma como governou: justamente, sempre procurando dar poder ao Povo, retirando-o das mãos da Nobreza. Relançou as políticas de conquistas em África como tinha feito o seu avô D. Duarte e tio-avô o Infante D. Henrique, criando condições para que Portugal se pudesse transformar num dos mais ricos países europeus da época. Revitalizou a economia, concentrou o Poder em si, patrocinou as viagens de espiões para África e Índia e manteve sempre no pensamento a ideia de que existiria um continente no Ocidente. Estas políticas, para além de trazerem um enorme sucesso a Portugal em séculos vindouros pois que se verificaram bem sucedidas, que lhe deram o cognome de Princípe Perfeito são talvez o espelho mais fiel de um príncipe perfeito na acepção de Maquiavel.

Mais uma vez, Fernando Pessoa faz uma descrição fantástica deste Rei em A Mensagem, ainda na Primeira Parte, agora no capítulo V. O Timbre:

Uma Asa do Grifo / D. João o Segundo

Braços cruzados, fita além do mar.
Parece em promontório uma alta serra--
O limite da terra a dominar
O mar que possa haver além da terra.

Seu formidavel vulto solitário
Enche de estar presente o mar e o céu
E parece temer o mundo vário
Que ele abra os braços e lhe rasgue o véu.

Depois destas figuras, vem, então, O Príncipe. Obra de Maquiavel, O Príncipe é um tratado político sobre que tipos de Principados (regimes) existiam na altura (c. 1510) e da forma como tomar o Poder neles e mantê-lo. Descreve ainda que tipos de Príncipes (governantes e formas de governo) e as políticas que estes podem prosseguir para evitar que os seus súbditos se virem contra si.

É uma obra fantástica que ainda hoje é aplicável. Li-a há uns anos e releio-a agora, de forma a condensar conhecimentos. Existe uma versão anotada por Napoleão Bonaparte que possuo e que mostra-nos como influenciou a visão do Imperador Francês e os seus planos para a conquista da Europa. Recomendo-a a todos os que querem e precisam de uma fonte segura de conselhos sobre liderança, estratégia política e governação.

Perante todas estas influências que tenho, quer como património histórico quer como cultural, julgo que esteja explicada a razão pela qual me chamo O Príncipe.

É pela aspiração a ser melhor, a superar-me, a instigar o conhecimento e o crescimento, a liderar e a saber o que é esperado de mim que reconheço que para mim está destinado o manto do Poder e que a seu tempo será a minha vez de o usar. Quando isso acontecer, espero estar à altura dos meus ilustres antepassados e saber tomar o Poder da mesma forma que eles o fizeram: atento e de forma estóica para evitar a corrupção, mas ao mesmo tempo com justiça e sapiência.

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