23.11.08

[Ventos de Nordeste] Neve



De há uns dias para cá, tem vindo a nevar. Primeiro timidamente, ao chegarmos a Harustie depois da festa onde nos finalmente deram os overalls, onde a praça estava coberta por uma fina camada branca que se quebrava alegremente debaixo dos sapatos.

Em Helsinki também já me nevou em cima e ontem, ao irmos de autocarro para Kallio, o Bairro Alto aqui do sítio, as estradas e as árvores cheias de neve alegraram ainda mais o caminho.

Hoje, acordei e saí do meu quarto e, ao olhar pela janela que dá para a praça, um autêntico nevão enche o mundo de branco.

Já começou...

18.11.08

[Ventos de Nordeste] Céu



A leste, o nascer do sol que esborratava a pintura azul celeste em tons laranja vivo, em fogo. A oeste, um arco-íris preenchia a abóbada de nuvens que pontificava sobre a baía que separa Rastila de Puotila. A caminho do metro, hoje de manhã, o céu ofereceu-me dois espectáculos tão diferentes quanto belos.

De manhã aproveitei as quatro horas e meia que tenho entre aulas para visitar as catedrais de Helsinki. Atravesssei a cidade a pé, perante o vento que me empurrava para os lados e puxava para trás, a chuva ligeira que me enchia as pestanas de pequenas gotas e o frio que não venceu, pois hoje levei calças polares por debaixo dos jeans.

Visitei três catedrais afectas ao Cristianismo: a Catedral Branca, pertencente à Igreja Luterana da Finlândia, a Catedral de Uspensky, a maior catedral ortodoxa do Ocidente e que está sob a alçada da Igreja Ortodoxa Oriental, e a de São João, também luterana mas englobada na paróquia de São João do Sul da Suécia. Não passei por nenhuma católica, porque as minhas pernas não me levaram até uma, mas já sei onde posso encontrar uma, e um domingo destes hei-de ir à missa, coisa que, infelizmente, não faço desde antes de vir para cá.

Agora que escrevo estas linhas, o céu decidiu desabar e limpar o dia das suas amarguras e tristezas, purificar as suas alegrias e vitórias e, quem sabe, acabar de maneira perfeita este dia em que senti particularmente Deus comigo.

17.11.08

[Ventos de Nordeste] MSE


Prelúdio

As razões, várias. Porque podia, porque queria, porque devia. Todas as condicionantes conjugaram-se perfeitamente para que pudesse partir à descoberta e conquista da Europa, onde conheceria e reencontraria amigos, onde ri, voei, sonhei, vivi.

Depois de ter trabalhado bem para o group assignment de IB (até aqui, num post mais de um mês depois, sou perseguido por esta cadeira), de ter assegurado financiamento (comer menos, comer menos bem, sair menos, enfim, tudo menos) e autorização materno-paternal e encorajamento dos irmãos e tios e de ter planeado todos os detalhes, desde a partida do centro de Stockholm até ao aeroporto de Arlanda, desde os comboios na Holanda e ao hostel em Amsterdam, só me restava partir.

Mas para tudo isto, teria que haver um motivo. E a força que me impulsionou foi tão somente o desejo de viver a experiência Erasmus ao máximo, seja ao arriscar, ao viajar sem motivo aparente senão o de aproveitar a presença em terras longínquas de casa e conhecer mais umas cidades, mais uns países ou o simples pretexto de visitar amigos.

E a 6 de Outubro de 2008, uma segunda feira, fiz-me à aventura.

16.11.08

[ventos de Nordeste] Escuridão e luz



'Empiezo a estrañar Portugal' - mais do que somente confissão a ouvintes da língua espanhola e a mim mesmo; é também agora, reconheço, a todos quantos me lêem.

Mas o tema musical não é inocente; com mais horas de escuridão que luz por dia aqui por terras finlandesas, o tempo começa a escassear. A ideia geral é de que temos que aproveitar tanto quanto podemos e por isso mesmo as horas de luz e de escuridão confudir-se-ão daqui por diante, na esperança de que tudo seja vivido, experimentado, dito, escutado, visto, sentido, partilhado.

Não que não esteja a gostar, porque estou. Mas há uma dualidade inerente às saudades que nascem; sejam elas por sinceramente querer voltar a tudo quanto vivi durante 20 anos ou por querer permanecer onde vivi e sobrevivi a alguns episódios marcantes e que nunca irei esquecer, por mais que viva.

Só posso desejar que o quer que aconteça, não deixe de me deixar marcas, sejam elas para mais tarde partilhar ou mais tarde recordar.

13.11.08

[Ventos de Nordeste] Um regresso, entre tantos, e a mesma estória

Brandi Carlile - The Story

Mais uma história para contar, mais uma estória de regressos. E a mim, quando regresso, parece que as estórias são sempre mais que muitas, mais que suficientes para não saber por onde começar a contá-las.

Mas há uma sempre presente; uma que se repete sempre. De todas as vezes que regressei, fosse do Cottage Weekend, de Stockholm e Amsterdam, Tallinn, Lapónia, Rússia, há sempre algo que é o denominador comum.

É o quarto que não ficou arrumado, fruto de ter feito a mala à pressa na noite anterior. É a comida que não tenho porque comi-a toda para que não se estragasse. É a quantidade de mails a que tenho que responder e as notícias que ficaram por ler. São os posts que fico a dever e o tempo a escassear por terras finlandesas. São as memórias que perdurarão e os risos solitários no metro ou autocarro a ir e vir da faculdade. São as palavras escrevinhadas furiosamente na moleskine e as saudades da família, das terras lusas, das almoçaradas de fim de semana e a camisa aberta a três botões no Verão que principiam a romper o peito do Príncipe.

É o prazer do regresso, é o prazer de mais histórias e estórias para contar e cativar os pais, os avós, os irmãos, os amigos, os tios, os primos, os sobrinhos, os filhos, os netos, quem quiser ouvir.

É o prazer de saber que por onde quer que vagueie, há sempre um quarto desarrumado à minha espera.

3.11.08

[Ventos de Nordeste] Rússia



Depois de uma viagem ao Norte da Finlândia, aí está a viagem ao maior país do mundo. Parto amanhã para São Petersburgo e Moscovo, onde ficarei até Domingo.

Considerações para posts posteriores, embora saiba que estou em dívida de outras ocasiões. Mas os posts virão, as aventuras serão relatadas e as fotografias reveladas.

Mas por enquanto tenho andado ocupadíssimo a fazer um paper (outro? Ou será ainda o mesmo? Já nem sei...) e com o stress da mochila para esta viagem. E uma enxaqueca no Domingo, a primeira desde que vim para a Finlândia. Bem, um dia haveria de ter uma...

Pelo meio, hoje uma sauna (a primeira em Harustie, o Bronx transformado em Queluz ou Odivelas, vá) para poder encarar a noitada que me espera.

Até ao meu regresso à Finlândia, moi moi ou hej då!

29.10.08

[Ventos de Nordeste] Nada mais interessa



Depois de saber que tive 46 em 50 no Mellantentamen (exame intermédio) de Sueco, 47 em 50 no exame final de International Business (acabando com 83,5%, ou seja, 16,7, arredondando para 17), depois de ter visitado a vila do Pai Natal e atravessado o Círculo Polar Árctico, nada disso interessa depois de uma sauna (que já não ia desde que parti para a MSE) revigorante a seguir a ter recebido ainda melhores notícias.

Nada mais interessa.

28.10.08

[Ventos de Nordeste] Visitas e Lapónia


Depois de mostrar Helsinki à mãe e às tias em 2 dias (que pequena que é!) e de visitarmos Tallinn noutro dia (ainda mais pequena...), chega a altura de saltar até Rovaniemi, na Lapónia. Três dias lá e outro de volta a Helsinki e vão-se embora as minhas primeiras visitas (e quem sabe as últimas...).

Sei que não tenho escrito nada aqui mas assim que acabaram os exames (o de International Business correu agradavelmente bem, apesar de ter durado 3 horas!) ainda não parei um dia que fosse (excepto o dia em que tive febre...). Assim que voltar da Lapónia, vou ter que escrever um term paper, ou pelo menos uma versão preliminar, em 4 dias e depois vou à Rússia: Moscovo e São Petersburgo - queriam fazer-me pagar 90€ pelo visto. Perguntei se afinal não eram 45€ ao que me responderam que para cidadãos mexicanos era 90€. Pois...

Aproveito para deixar a conhecer a Islaja, cantora finlandesa, cujas canções e vídeos são bastante evocativos da beleza cultural e ambiental da Finlândia.

Até quando puder voltar a escrever qualquer coisa...

22.10.08

[Ventos de Nordeste] Exames



Exames, o pânico. Mas sem medo, depois de ter tido o primeiro hoje. Ok, tecnicamente o primeiro foi de Sueco há uma semana, mas é Sueco... não conta.

O de hoje, EOI, correu bem. Agora é estudar o máximo possível para IB, na sexta feira e depois tranquilamente esperar pela chegada das primeiras visitas.

Sem medo, sempre.

19.10.08

[ventos de Nordeste] Adaptação e aprendizagem



Com o tempo, adaptamo-nos a tudo. Adaptamo-nos às temperaturas adversas, aos horários diferentes, aos preços das coisas boas nos supermercados e às coisas menos boas a que já nos adaptámos a comprar e comer todos os dias, a ouvir K e P por tudo o que é palavra na língua finlandesa, a falar Inglês a toda a hora que já começo a pensar e a sonhar nessa língua...

E aprendemos os pequenos truques que nos fazem adaptar mais facilmente. Aprendo que a melhor altura para lavar a roupa é no Domingo à noite, então adapto as minhas rotinas para que calhe todo o ritual de lavar a roupa no fim do fim de semana. Adapto-me aos horários para se fazer o jantar: sou quase sempre o último a cozinhar e a comer. Adapto-me à faculdade fechada ao fim de semana e procuro e encontro cafés para ir estudando. Aprendo a olhar pela janela e perceber se devo levar luvas, cachecol ou ambos. Aprendo a prever quando posso levar o casaco ou quando tenho que levar o impermeável.

Adapto-me à hora em que o sol baixa (cada vez mais cedo) e adapto-me às 8 horas de luz por dia. Aprendo a viver num país em que as pessoas conseguem viver com escuridão, frio e pouco mais no Inverno e adapto-me a ele.

Mais do que aprendo na Hanken ou nas conversas com os amigos, aprendo realmente a saber adaptar-me quando me lembro do que já aprendi aqui sozinho.

15.10.08

[Ventos de Nordeste] Ideias espontâneas e uma reflexão


Ideias rápidas:

1. De regresso a Helsinki, ao frio, à rotina. E aos posts, se bem que agora um bocadinho mais espaçados pois que vem aí a semana dos exames.

2. A Mini Saga Europeia (MSE) que vivi a semana passada terá honras de vários posts, assim que puder escrevê-los.

3. Acho que perdi a minha moleskine... já em Helsinki. No mínimo irónico, até porque tinha lá vários posts quase prontinhos a saltar aqui para o blog. Enfim...

4. Hoje tive um exame de Sueco (correu bem) e uma apresentação e discussão para International Business que também foram impecáveis. Parece que sim, fiquei contente.

A reflexão:

Cheguei a Helsinki sete dias depois de a ter deixado e, apesar de nada ter mudado, parece que tudo mudou. Desde ao Outono que se instalou e às árvores da margem direita quando vou para casa de metro ainda estarem verdes e viçosas por oposição às da margem esquerda que se ruborizam e amarelecem, ao frio que hoje suspeito que me iria congelar as pernas (calças fininhas é no que dá, senhor Goga...) e às pessoas que em 5 dias depois de nos separarmos em Stockholm mudaram tanto. Seja por terem cortado o cabelo, uma barba que foi deixada crescer, um penteado diferente, algo não está igual. Os nossos dias de inocência aqui em Helsinki já foram deixados para trás: vão começar agora os exames e cada um está por si, neste grande grupo. E esta semana marca o meio da minha vida aqui na Finlândia...

5.10.08

[Ventos de Nordeste] 10 anos depois



19h15 de um dia qualquer da semana passada. Pelas janelas do metro vejo a noite cerrada que se abate sobre Helsinki e a chuva que bate contra o vidro. Este início de Outubro na capital finlandesa é em tudo semelhante ao Inverno de Lisboa. Parece que os meses andam um pouco mais rápido aqui, no Nordeste.

Flashback para 1998, quando era um pequeno rapazinho (ok, não que agora seja muito maior) que regressava para casa dos treinos de futebol nas longas tardes de terças e quintas. Já com noite e chuva, às 18h30, lembro-me de apanhar o 1, o 36 ou o 108 para sair ali na Avenida da República e andar uns 3 quarteirões até casa. E que aventura era, para o pequeno Goga, ir desde o Colégio até à paragem dos autocarros, atravessando o Lumiar escuro e perigoso. Assim que entrava no autocarro não me sentia seguro ainda; era preciso ultrapassar a barreira psicológica do Campo Grande para poder respirar um pouco mais à vontade. E assim cresci, tento medo de ser assaltado, que fui, de andar à pancada, que andei, de ter que correr para nada mais de mal acontecer, que corri. Mas ainda bem que por isso passei; afinal, a vida não pode ser vivida totalmente sem emoções fortes! Mas a chuva que bate nas janelas trepidantes dos velhinhos autocarros de Lisboa e a água que escorria das calhas de alumínio no topo dos mesmos já ficaram para trás.

Flashforward para 2008. Entre estes pensamentos, já estou quase a chegar a Rastila e saco da Moleskine para apontar estas ideias que bem podem dar um post. Porque 10 anos se passaram e em 10 anos transformei-me no Goga que não tem medo de nada (excepto de animais com a boca maior que a minha!) e que arrisca. Arrisca em ir a Estocolmo com os restantes alunos de Erasmus da Hanken, arrisca depois em ir sozinho para Amesterdão e dar um salto a Nijmegen e depois voltar sozinho para Helsinki, fazendo escala em Copenhaga apenas uma hora. E arrisca tanto que só vai levar uma mochila às costas com 7 mudas de roupa (para 7 dias, contadinhos, e sem recurso a mais perante possíveis acidentes de percurso) para não ter que despachar nada no porão dos aviões.

E é por isso que devo estar uma semana incomunicável. Mas isso não significa longe de tudo; quando voltar faço um relatório da aventura, com fotos e tudo o mais. Até lá, sempre a arriscar.

4.10.08

[Ventos de Nordeste] Viagens e classe


Kevin Shields - City Girl

23 de Setembro de 2008, 6h da manhã. Acordo e levanto-me imediatamente, sem regatear. Tomo um duche rápido, como um pequeno almoço também rápido (cereais em 2 minutos ao poder!) e saio de casa, não sem antes esperar 2 minutos pelo Romain. Assim que saímos da porta do prédio encontramos o Rodrigo, também pronto a ir. Todos de mochila às costas, poderíamos ir para a Hanken, mas não. Dirigimo-nos para o metro onde esperamos pelas raparigas. Até aqui tudo normal, não fosse o nosso destino desse dia 
Tallinn, capital da Estónia. Entre chegarmos a Kamppi e procurarmos o autocarro que nos leva ao porto de onde saiem os ferries, uma correria e grande confusão. Como o próximo só sai daí a 45 minutos (precisamente a altura em que tínhamos que estar a comprar os bilhetes), vamos a pé até à Central Railway Station onde apanhamos o autocarro 25. Uma vez lá dentro, contamos os minutos para ver se conseguimos estar às 7h45 no porto. Conseguimos! Entramos no terminal e compramos os nossos bilhetes para o ferry da Eckerö Line (15 euros ida e volta, um docinho!) e quase depois de embarcarmos, a viagem começa.

Da esquerda para a direita: Romain, Rodrigo, Goga, Maria (lê-se Maja) da Rússia, Caroline da Bélgica, Cynthia também da Bélgica. Falta a Anabelle, francesa, que está a tirar esta fotografia.

Sem muito para contar da viagem, excepto que estivemos no bar a maior parte das 3 horas (sim, 3 horas para fazer 90 km) e, talvez impulsionados pelo álcool matinal, casais de idosos a dançar ao som da música das bandas que passaram pelo bar. Enfim...


Uma vez chegados às 11h, atacámos de imediato os objectivos mais turísticos: a cidade velha, que é mesmo bonita e diferente de tudo o que já tinha visto (bem-vindo ao Báltico, Goga), as ruas típicas (vazias de pessoas àquela hora) e as Igrejas mais importantes, entre as quais a de St. Olaf, cuja torre mede 124 metros e é omnipresente em toda a cidade. Incidentalmente, sabiam que esta Igreja foi, em tempos, o edifício mais alto do mundo?

A Igreja em si é igual a todas as outras igrejas luteranas: muito austera e com pouca vida. Mas a torre, cuja visita custa 45 Kr. (3 euros), é fantástica. A subida é muito cansativa (escadas em caracol, mal iluminadas e íngremes com largura muito reduzida) mas faz-se bem.


Momento de descanso nos bancos de pedra: a Anabelle é a rapariga loira do fundo.


Eu, no topo da Torre, com Tallinn a espraiar-se atrás de mim.


Rua típica de Tallinn, na cidade velha.


Depois da Torre e de mais algumas coisas, decidimos almoçar na Praça Central, num restaurante italiano (na fotografia). Comemos umas pizzas enormes (cujas fotografias não tenho!) e muito boas. Para pagarmos, tivemos alguns problemas, porque não conseguimos levantar dinheiro nas caixas da Praça Central. Felizmente, pudemos pagar em euros e com cartão, mas mesmo assim houve algumas hesitações: o empregado disse-nos que nos restaurantes a taxa de câmbio era 13,5 Kr. por 1€, ao contrário do que era nas lojas: 15 Kr. por 1€. Enfim, lá pagámos sem demais problemas - a Caroline, que nem uma verdadeira contabilista, deu uma lição de manuseamento da calculadora ao empregado. Depois do repasto, decidimos continuar a visita; afinal, só tínhamos até às 17h. Uma vez que se faz tudo muito bem a pé (é uma cidade relativamente pequena), continuámos a andar pelas ruas, com a Anabelle a fazer de guia e às vezes eu e o Rodrigo a corrigirmos algumas desorientações, de mapa em punho.


As ruas de Tallinn são um misto de ruas mediterrânicas (viradas para o mar) com edifícios coloridos e baixos com influências gregas (calçadas de basalto e flores por todo o lado). São muito bonitas e é uma viagem que aconselho a quem estiver pelo Báltico, Finlândia, Suécia ou Rússia.


Eu, com a Casa de Portugal atrás de mim. Uma lojinha de vinhos, infelizmente fechada àquela hora.


Uma goteira de ferro forjado em forma de bota. Tirei esta fotografia porque, para além de ser uma coisa original, no meu guia (obrigado, avô!) da Lonely Planet está esta fotografia no ângulo inverso. Em Tallinn há imensos ferreiros e o ferro forjado, como em Lisboa, está presente em quase todas as varandas. Depois de almoço e de mais algumas visitas, fizemos algumas compras. Comprei um badge da bandeira da Estónia para o meu overall, traje académico aqui da Finlândia, e procurei casinhas típicas de Tallinn para oferecer à Constança, mas não encontrei nenhumas giras. Fica para a próxima.


Catedral Ortodoxa de Alexander Nevsky, vestígios da ocupação russa do século XIX.

Depois de tantas aventuras e desventuras (incluíndo a busca incessante da fábrica de chocolate pela Anabelle e a Caroline, que a encontraram mesmo!), fomos todos ter ao porto pelas 16h40 a tempo de embarcarmos às 17h. Nova viagem, agora de 3h30, tranquila e sem grande história. Fica aqui uma imagem do pôr do sol sobre o Golfo da Finlândia:



Nesse mesmo dia, vim a saber mais logo que tinha havido um tiroteio numa escola em Kauhajoki, cidade a 400 km a noroeste de Helsinki. O dia seguinte foi de luto nacional, declarado pelo Governo Finlandês. As ruas vestiram-se de bandeiras nacionais a meia-haste e os finlandeses pareciam um pouco mais sombrios do que o habitual.

Daft Punk - One More Time

A maioria dos alunos de Erasmus daqui estão a fazer a cadeira de International Business. O primeiro de 2 papers individuais tinha sido entregue uma semana antes e, na 4ª feira, dia 24, as notas saíram. Durante a lecture, estava à procura (no meu Mac) dos slides para ir acompanhando, quando reparei que no site com os conteúdos da cadeira
 já estava o ficheiro excel com as classificações até à altura. Procurei a minha nota e, sem a dizer a ninguém, perguntei aos meus amigos os seus números para lhes dizer as suas notas. Quando finalmente alguém me perguntou quanto tinha tido, respondi de forma despreocupada: 5 pontos, em 5. E, agora para consumo familiar (e do meu ego), em 135 alunos, só houve dois 5, sendo que o meu foi o único dos alunos Erasmus. Pois é, eu sei, obrigado pelos elogios!

1.10.08

[Ventos de Nordeste] Andar aos papéis (literalmente)



Um paper para International Business na 2ª Feira, duas páginas. Um resumo de outras duas páginas sobre o tema que vou desenvolver para o Term Paper da cadeira de Economics of Organisation and Information que enviei ontem (esperando que o assistente aceite o tema). Escrever 5 páginas para o Group Assignment de IB até 6ª Feira, sendo que ontem fiz a pesquisa toda, ou quase toda, e ficar apreensivo com o facto de apenas ter material para escrever umas 3 páginas.

Ok, talvez consiga puxar para 4 se inventar (o que melhor faço). Hmm, poderão até ser 5, se incluir gráficos e imagens. É que escrever sobre as dificuldades sentidas pela IKEA no processo de internacionalização não é propriamente tema para uma dissertação...

E, após uma lecture bem aborrecida (o tema até era interessante: M&As: post-merger integration) em que quase adormeci mais do que uma vez, com a perspectiva de uma aula de Sueco e depois ter que trabalhar a tarde toda, começo a pensar que se calhar hoje não vai dar. Mas nada como ir à cantina e servir-me de um double expresso em que fiz batota e carreguei outra vez no botão de servir, sendo então que tomei um expresso quádruplo (ok, admito que roubei e só paguei o expresso duplo mas foi por boas razões: um expresso custa €1.30, o mesmo que um expresso duplo, portanto acabei por pagar €0.325 por cada café... preço justo!) para simplesmente manter-me acordado. E está a funcionar. Lidarei com eventuais envenenamentos por cafeína depois...

É caso para se dizer que ando aos papers, literalmente.

26.9.08

[Ventos de Nordeste] Finlândia, um mês depois


Jean Sibelius - Finlandia

Passado um mês que cheguei cá, posso fazer um balanço destes primeiros 31 dias pela terra do Nordeste (ou Norte, para eles).

As coisas más:

1. A distância da minha casa ao centro de Helsinki: todos os dias, demoro pelo menos meia hora a chegar à faculdade. Começa a cansar... Até porque se formos sair à noite, ou voltamos pela uma e meia no último autocarro ou esperamos ao frio pelo primeiro metro.

2. O tempo: apesar desta semana ter estado muito sol e algum calor, não apaga o facto do frio que se insinua a cada dia que passa. Não que não soubesse no que me vinha meter, é só porque é irritante. E eu até gosto de frio...

As coisas boas:

1. O país em si: não há palavras para descrever a beleza que nos invade assim que saímos de Helsinki. Têm que vir cá ver com os vossos próprios olhos.

2. Tudo funciona (ou quase tudo): há sempre soluções para quaisquer problemas, basta ter paciência e confiança. As pessoas confiam todas que os outros vão respeitar a lei, a propriedade e a ordem. E isso acontece.

3. Os amigos: sejam eles estudantes Erasmus ou lá da Hanken, posso dizer que já fiz grandes amigos aqui.

4. A falta de saudades (asfixiantes) da família, dos amigos, de Lisboa, de Portugal... Claro que sinto a falta, mas não ao ponto de ser impeditivo de me divertir.

5. As viagens: está tudo aqui tão perto, que é criminoso não viajar. Tallinn, Estocolmo, São Petersburgo são alguns exemplos, mas na Finlândia e perto de Helsinki temos Porvoo, Tampere, Turku e um bocadinho mais longe Rovaniemi, na Lapónia.

Com mais coisas boas que más (e que as suplantam facilmente), obviamente que faço um balanço positivo da minha estadia cá. Daqui a um mês vamos lá ver se continua assim.

P.S. : A composição para orquestra que seleccionei como música para este post, é a obra Finlandia, Op. 26 (obrigado Nana, por me teres mostrado isto em Sousel - há tanto tempo, já...), de Jean Sibelius, o mais famoso compositor finlandês. Esta peça é considerada por muitos como a música que serviu de combustível para o movimento de resistência finlandesa durante a ocupação russa no Século XIX. Os últimos três minutos são indiscritivelmente belos. Todo este poema sinfónico é inspirador e arrepia. Como a própria Finlândia.

25.9.08

[Ventos de Nordeste] Parar. Recomeçar


Talvez sejam as 13 horas dormidas nas últimas 72. Talvez seja o stress de entregar mais um paper na 2ª feira e outro na próxima 6ª. Talvez seja porque os meus cartões bancários hoje se rebelaram contra mim e não me deixam levantar dinheiro. Talvez seja o facto de ter tido uma aula de economia misturada com estatística às 8h30. Talvez, até, seja a proximidade de um Sporting - Benfica.

Mas a verdade é que hoje tenho que dormir a tarde toda. E nem coragem tenho de ir ter com os que foram estudar para a praia.

18.9.08

[Ventos de Nordeste] Meandros e momentos finlandeses


Natural Calamity - Dark Water & Stars

Se há coisa que os Finlandeses gostam (para além de sauna, Natureza, falar sobre o tempo, telemóveis, hoquéi no gelo e beber muito álcool), é das suas cottages. Pequenas casas nos infindáveis bosques normalmente situadas junto de um lago ou mar, para onde quase todos se escapam com a família quando chega o fim de semana. Ora, o Exchange Committee que tão bem nos tem tratado, decidiu que essa seria uma das actividades finlandesas que nós não podíamos perder. Fomos todos então, no sábado de manhã para uma cottage perto de Porvoo / Borgå (lê-se Borgo - como em burgo, cidade), pequena cidade medieval 50 km a leste de Helsinki. 


Lá, fizemos alguns jogos antes de almoço (para encher chouriço), incluíndo um engracadíssimo: um jogo de futebol, onde todos os jogadores tinham que ter a visão tolhida por dois rolos de cartão, como se fossem binóculos. Como podem ver pela fotografia, eu estava em grande forma, e até estava a salvar um golo em cima da linha. Depois ainda fui a tempo de marcar um golo na segunda parte, o que nos garantiu uma vitória por 5-3! Grande futebolada, para abrir o apetite...


Depois de almoco, explorámos um bocado (cada um por si ou em pequenos grupos) a floresta e a costa, já que não estava nada programado para a tarde. Mas todos fomos derivando para a "praia" e a plataforma que servia de doca e prancha de mergulhos, onde aproveitámos um sol de Verão pouco comum por estes dias e preguiçámos a tarde toda.



Ao jantar, mais um sitz, tradicão sueca: muita comida, muita bebida e muita cantoria. Enfim, muita diversão. Após isto, a verdadeira tradicão finlandesa: a sauna! As raparigas foram primeiro, das 22h00 às 23h30, para depois ser o turno dos rapazes, entre as 23h45 e a uma. Nada mais revigorante que estar a suar que nem uma baleia num ambiente de 80 graus para depois ir dar um mergulho rápido ao mar - a temperatura do ar era algo como 5 graus e a água estava a 10-12 graus. E, como é óbvio, os verdadeiros finlandeses fazem isso nus, portanto também nós o fizemos!

Depois disto, continuou a animacão com uma discoteca improvisada para os mais resistentes - a esta hora uns quantos já tinham pendurado as botas. E só mesmo para os que continuaram uma prestação de altíssimo nível, sauna depois da festa. Sim, sauna às 3h30 da manhã. Escusado será dizer que no dia a seguir, ao pequeno almoço (e sim, tio, só dormimos umas 5 horas), todos estavam totalmente ensonados ou totalmente constipados. Eu não me inseria em nenhuma das categorias porque, bem... não sei porquê. Parece que os Portugueses são de têmpera rija. Depois do pequeno almoço e das arrrumações, voltámos para Helsinki e para casa.

Bush - Warm Machine

Para não acharem que eu ando aqui só na boa vida (não que não seja verdade - a boa vida, isto é), esta semana entreguei um paper para a cadeira de International Business. Tinha que analisar o caso de uma companhia finlandesa, a Lumene, que exporta cosméticos para a Rússia e Estados Unidos e depois ainda tive que fazer a discussão do caso num seminário. Trabalho muito exigente por uns dias, depois tem sido business as usual.

Ao mesmo tempo, temos tido muitos aniversários: a Linda, letã na terça passada, o Romain, meu room-mate e um dos meus melhores amigos nessa quinta feira e um dos Florians (alemães), o de barba, logo na sexta a seguir. Esta semana, foi a vez da Emiline, francesa, também na terça. Muitas razões para festejarmos!

Josh Radin - Winter

Frio, muito frio. Em Setembro, o que não é normal para ninguém que não os Nórdicos. Noutro dia chegou ao ponto de estarem 3 graus em Helsinki a meio da tarde. Enfim... Toda a gente continua a dizer que este foi um Verão muito frio e as opiniões dividem-se: se vamos ter um Inverno suave ou rigoroso. Há quem diga que em Outubro vai comecar a nevar em Rovaniemi e ainda antes de Novembro em Helsinki. Há quem afirme, por outro lado, que não neva aqui antes de Dezembro. Independentemente disso, sei que a partir do fim de Novembro os dias vão ter 4 horas, portanto se neva ou não, acaba por se tornar irrelevante...

Adriana Partipim - Fico Assim Sem Você

Bebés: geralmente uma coisa engracada de se ver, aqui ainda mais. E explico porquê. Aqui, as criancas são como os adultos, loiros, grandes e calados. Até agora, e sem contar com os bebés filhos dos imigrantes, todos os bebés que vi eram grandes, gordos e loiros e bastante sossegados nas suas cadeirinhas que mais parecem tanques. As cadeiras aqui são cobertas por um tecido impermeável (para não deixar entrar a chuva) e reforcadas com mantas (para não deixar entrar o frio). Já a salvo dos elementos, os bebés podem então descansar e dormir ou então brincar nas suas mesas de actividades - sim, as cadeiras têm mesas de actividades. É normal ver um bebé a brincar com o biberão cheio de leite (claro) ou com outra coisa qualquer na mesinha que passa por cima dos seus joelhos. Algumas até têm um volante... Agora entendo o porquê da Finlândia ter tantos pilotos famosos (Tommi Mäkinen, Juha Kankkunen, Mika Häkkinen, Kimmi Räikkönen, ...).

Ah, e não é possível andar de metro sem se verem pelo menos uns 3 bebés. Alguns casais até andam com dois ao mesmo tempo: um com um ano de idade e outro aí com uns 3 meses. Bastante diferente do que se passa em Portugal, infelizmente. E sim, isto é uma pequena indirecta às saudades que tenho da Ticas...

The Solids - Hey Beautiful

Séries, o melhor amigo do estudante erasmus. Porque, apesar das festas, apesar das aulas, apesar das conversas no skype com amigos e família, apesar das futeboladas e ginásio, há sempre horas para matar. E as séries que mais tenho visto (ou melhor, as únicas que tenho visto, até porque ainda só descarreguei estas) foram a grande favorita aqui de todos, How I Met Your Mother, mas também Pushing Daisies, Supernatural e The Lost Room, que só tinha visto um episódio em Lisboa antes de vir, mas chamou-me à atencão. Boas horas em frente do Mac no meu quarto, a salvo do frio e chuva que lá fora assolam o bairro de Harustie.

11.9.08

[Ventos de Nordeste] - Apontamentos e Considerações

Bloc Party - Flux


3 apontamentos:

1. Se eu andar na rua a uma determinada hora (digamos, às 11h15) como ontem, na Runeberginkatu (a que liga a estação de Kampi à Hanken), posso parecer alto. E explico as minhas razões para pensar assim: a essa hora, todos as crianças estão nas aulas; todos os jovens adultos estão ou nas aulas da faculdade ou no emprego. Então, quem anda na rua a essas horas são, principalmente, os idosos (que são baixos para a média finlandesa ou que já começaram a minguar) e os turistas, que não são nórdicos. Assim, é possível para mim, que já sou baixo para os padrões portugueses, parecer alto na Finlândia.

2. Continuando na senda da altura: os funcionários da cantina da Hanken, onde tenho almoçado todos os dias por 2,20€, devem achar que eu ou estou em crescimento ou então estou sub-nutrido. E é por isso que dia após dia continuam a servir-me doses industriais de strogonoff de porco, fatias gigantes de pizza, quilos de massa e litros de sopa. Para que eu cresça mais um bocado, se calhar. Só se for para os lados... (não se preocupe mãe, também como sempre um prato de salada)

3. Os ginásios universitários de Helsinki funcionam muito bem. Por apenas 40€ tenho três meses de acesso a quaisquer instalações. Costumo ir ao da Administration Building, que fica na cave do edifício dos serviços administrativos da Helsingin Yliopisto (Universidade de Helsínquia ou Helsingfors Universitet). Depois de exercícios nas máquinas, vou à sauna e costumo fazer o mini-ciclo: 5 minutos, duche de água fria, 3 vezes. O ciclo normal são 15 minutos.


2 considerações:

1. Receber encomendas de casa é óptimo. Não só se tem a satisfação de chegar a casa e ver o que veio (camisolas de , bolachas e um impermeável na primeira remessa, a título de exemplo), mas ainda a de se andar na rua com pacotes e ver os olhares de inveja das outras pessoas. Enfim, um Natal mais cedo.

2. Lavar a roupa, o grande papão dos alunos Erasmus daqui. Mas, mal ou bem, lá consegui fazer duas máquinas: uma de roupa escura e outra de roupa clara. E saiu bem, claro.

7.9.08

[Ventos de Nordeste] - Primeira semana, primeiros passos fora do ninho



O bloco 7 de Harustie é habitado principalmente por estudantes, a maioria dos quais de Erasmus (e onde cerca de 85% dos estudantes de Erasmus da Hanken estão), imigrantes e idosos. É, claramente, um bairro de gente sem grandes possibilidades como se consegue ver pela total ociosidade dos jovens locais, que a seguir às aulas ficam no largo a falar, andar de bicicleta e fumar. Apesar disso, é a nossa casa agora e ainda todos nos estamos a ajustar. Desde a
sauna que não aparece aos caixotes de lixo que permanecem incógnitos, aos encontros para ir para a Hanken ou a Helsinki no meio dos jardins com outros “Hankeits” (como somos chamados – estudantes da Hanken) ao já mítico prédio E, onde foram as House Parties até agora e onde provavelmente serão sempre.


Continuando a sequência dos acontecimentos do post anterior, lá fomos para a festa. Como ainda era o segundo dia, as pessoas mantinham-se em grupos com aqueles que já conheciam. Ao fim de algum tempo, começa-se a falar na hipótese de ir sair a Helsinki, a uma discoteca que aparentemente é muito boa. Céptico, começo por dizer que estou cansado e ainda não arrumei as coisas todas; além disso, amanhã temos que estar às 9h30 na Hanken... Aparece então a Johanna (a minha tutora) que me convence a mim, ao Alex e ao Erick (também alemão). Lembro-me então que não tinha trazido a máquina fotográfica! Enfim... Vamos todos então com ela e outra tutora (não me lembro do nome). Chegados à discoteca, entre Kampi e a Central Railway Station (nome em finlandês e sueco), estamos na fila enquanto 4 rapazes atrás do Erick (que mede 1,90m) conseguem ser mais altos que o alemão, cada um devia medir uns 2,05m – sem exagero. À entrada, a primeira vez (de provavelmente muitas) que me perguntam a idade. O curioso é que o segurança me perguntou em finlandês. Respondo sem hesitações: “I’m 21 years old.”ao que o segurança me pede desculpa e diz para entrar. Lá dentro encontramos mais estudantes da Hanken – umas raparigas belgas e francesas – e mais tutores. Fazemos a festa entre nós, mas só até às 1h30, porque a essa hora temos que ir apanhar o último autocarro que sai na Estação de Comboios antes das 2h00, a hora a partir da qual temos que pagar a tarifa nocturna. O nosso travel card é bom, mas não é assim tanto...

The Strokes – Red Light

No dia seguinte tento ligar-me à internet na Hanken e consigo – ainda que parcialmente e só durante uns 20 minutos. Disseram-me que a rede wireless está com alguns problemas porque estão a mudar os routers. Quer dizer, país de alta tecnologia mas se calhar nem tanto... Aproveito essa tarde então para começar a tirar fotografias e explorar um pouco a cidade. A andar sozinho por Helsinki, de auscultadores nos ouvidos, mochila às costas, confundo-me com os seus habitantes – estou mesmo cá. Começo a aperceber-me que isto afinal não é uma viagem com amigos, como as da neve ou a de finalistas. Não somos um grupo de jovens a brincar às casas nem aos turistas: somos estudantes de intercâmbio. Com a confiança renovada que tudo vai correr bem, continuo a andar por aí...


Na sexta-feira fazemos uma excursão de autocarro por Helsinki na
Helsinki Expert. Aí estava já embrenhado no grupo dos mexicanos e dos espanhóis, onde conheci o Fernando, o Mendi, a Irene e a Olga (todos do país nosso vizinho) e o Josué, a Estefania e a Lulu (Lourdes) e o Rodrigo, estes do México. Quando a nossa guia diz que também havia feito Erasmus, em Portugal, foi a festa no autocarro no nosso grupo, pois sou o único estudante de Portugal na Hanken. Aproveito para falar com ela português, língua longínqua já... Depois da visita, vamos todos comer uma espécie de donut com creme (de chocolate, de alcaçuz, de ovos...) em cima (rói-te de inveja, Homer Simpson) e depois seguimos todos para casa. Estava-se a planear uma saída à noite, mas não fui porque não ouvi o Rodrigo (que mora no apartamento ao lado do meu) a bater à porta. Enfim...


All India Radio – Far Away

Sábado, dia 30. Vamos com os tutors e quase todos os estudantes de Erasmus da Hanken de ferry para
Suomenlinna, uma fortaleza marítima numa ilha, onde fazemos um pic-nic e uns jogos de team-building. Antes de nos dirigirmos ao local onde vamos passar a tarde, paramos numa espécie de mini-mercado, onde o Otto (um dos tutores) nos aconselha a comprar bebidas, sejam elas alcoólicas ou não alcoólicas. “Muito responsável”, diz o Manel quando lhe conto isto. Começamos então todos a conhecermo-nos melhor, o que serve para quebrar o gelo e um bocado os grupos: até agora os alemães mantinham-se juntos, como os francófonos (franceses, canadianos e belgas) e em certa medida os que falam espanhol (eu incluído ☺). 


Nessa noite, há mais uma House Party (outra vez no ‘Party building’, o E) e depois vamos todos sair para o Club KY, uma discoteca muito em voga em Helsinki. Como nos pedem 7€ à entrada, eu, o Rodrigo e o Rafa (outro mexicano) desistimos de ir (até porque o último autocarro é às 2h e a discoteca fecha às 3h30 e isto eram umas 1h40) e decidimos ir comer um kebab. Pedimos para levar e ainda vamos a correr mas já não conseguimos apanhar o autocarro. Resignamo-nos a pagar 4 euros e sentamo-nos, desconsolados. Mas nem tudo é mau, pois encontramos a Riikka, finlandesa que esteve 3 anos em Portugal a estudar (em Lisboa e Braga) com o marido (também finlandês) e que estava muito contente por falar comigo em português. Deu-me o número dela e disse para eu lhe ligar, para um café ou algo do género. Simpáticos, ambos. Saímos na estação em frente à bomba de gasolina e despedimo-nos do Rafa que mora no prédio E. Eu e o Rodrigo comemos o nosso kebab (bem grande e picante – mas a ele não lhe sabe...) em casa dele e depois vou para minha casa dormir e recarregar baterias.

Sublime – Santeria

Domingo, dia de descanso e de compras. Vou ao Lidl em Itakeskus e depois ao SMarket em frente a casa. Quando estou no metro, de volta, e perante o cansaço, os olhos pesam e começam a fechar-se. E, numa passagem por cima de uma baía com o mar à minha volta, as saudades começam a aparecer e os pensamentos fogem para as pessoas que ficaram em Lisboa e Portugal. E depois para o que se passou entre o pequeno Goga que, no 5º ano, chegava a casa depois das aulas e lanchava e fazia os trabalhos de casa para brincar o resto da tarde toda. Ou o já mais crescidinho que esperava pacientemente no 8º ano pelo fim das aulas para às terças e quintas ter treinos de futebol no
Colégio e às quartas e sextas rugby no CDUL. E o Goga homenzinho do 11º que já tinha a vida toda planeada. E ao, já na faculdade, Diogo que arrancou para um semestre apostado em ser homem e trabalhar que nem um animal e fê-lo porque era a coisa acertada a fazer. E ao Diogo Maria, que no jantar de aniversário de 21 anos, encantou a família com um discurso que “emocionou a Avó”. Todas essas minhas encarnações conduziram-me aqui, a Helsinki, ao Nordeste. Daqui a uns anos, olharei para trás e verei esta fase da minha vida como decisiva, mas não exclusiva, para chegar onde quer que esteja na altura.

Bush – The Chemicals Between Us


2ª, 3ª e 4ª: aulas e outras coisas. Nada muito a dizer, apenas que esta não é a
rentrée habitual: frio, mau tempo, aulas logo a abrir Setembro e sem os amigos do costume. Difícil, mas não impossível. Entretanto, já com um telemóvel finlandês (um... Samsung B100 e não um Nokia, ao contrário do que seria de esperar...), aproveito para matar saudades da família (as chamadas e as mensagens são muito mais baratas!) e começar a desenvolver a rede de contactos aqui com os estudantes de Erasmus mas também com os nativos. Aproveito também para tirar fotografias a tudo o que surge como prova à família de que eu estou cá, respiro este ar, bebo todas estas experiências, rio-me, faço amigos, aprendo novas coisas, enfim, cresço.


2.9.08

[Ventos de Nordeste] - O começo de uma aventura, ou Crónica de uma partida, chegada e primeiro dia

LCD Soundsystem – Tribulations

6h00, o despertador toca. Sem dificuldade, levanto-me e dirijo-me para a casa de banho para o habitual duche matinal. Só já dentro da banheira e com a água quente a escorrer-me pelos ombros é que efectivamente me apercebo que este será o último duche em Lisboa durante muito tempo. Visto-me, com uma sweat-shirt e blusão (ridículo para Agosto em Lisboa) e calço as botas da Timberland, porque se fossem na mala aumentariam o excesso de peso que já contava com 8 kilos... A mãe acorda, o telemóvel vibra com uma mensagem do irmão que está a estudar e que pergunta qualquer coisa que me escapa. Como qualquer coisa à pressa, sem grande fome. Pego nas malas e ponho-me fora de casa.

Chego ao aeroporto pelas 7h15 e enquanto procuro o balcão do check-in, ainda não me tinha mentalizado que era mesmo para ir. Chega a minha vez, mostro, orgulhoso, o papel que imprimi e que tinha o código de reserva do bilhete (comprado pela internet, uma estreia!) e ponho a mala na balança. 28 kilos, 8 a mais do que o permitido, como previsto na velhinha balança lá de casa. Passam-me o recibo de excesso de peso, pago e entretanto chega a irmã, o cunhado e a sobrinha. Grande festa no balcão, à cigana. Pacotes de bolachas enfiados na mochila à pressa, dirijo-me então para o balcão 29 do check-in para poder receber o cartão de embarque. Com ele na mão, passa a ser real; vou mesmo embora daí a coisa de uma hora. Aparece entretanto o tio, vindo de Sintra de propósito para se despedir do sobrinho e afilhado. Ainda dá tempo (à portuguesa) para todos tomarmos um café e antes que me aperceba, já são 8h00 e tenho que me ir embora. Abraços, beijinhos, birra da sobrinha (“o pio vai embora, dê lá beijinho...”), adeus familhia que o benjamim vai para a Escandinávia.

No controlo de segurança, dizem-me para despachar-me que já estão a chamar pessoal para esse voo. Pego na mochila, na mala do portátil (que demorou épocas a tirar da mochila) e vou a correr para a porte de embarque 12. Como é óbvio, é na outra ponta do terminal. E eu, a correr com botas novas, de blusão e camisola, com uma mochila e um portátil nas mãos, lá consigo chegar a tempo do “last call for flight AY 922 to Helsinki”. Mostro o meu BI e cartão de embarque e desço até ao autocarro. Lá, enquanto tiro camisola, substituo botas por ténis e afins, liga-me a família a dar as últimas despedidas. Finalmente embarco no Airbus A320 da Finnair que me vai levar para a outra ponta da Europa.

Voo sem história, mas com algumas estórias. Desde os inúmeros chineses e indianos a bordo (claramente era um voo de ligação), ao bebé grande, gordo e loiro com um pijama de zebra (a ver se encontro um para oferecer à Teresinha), ao finlandês que à minha frente lê um jornal em que um artigo sobre o Deco e o seu golo de livre directo, em que chamavam ao médio do Chelsea “Decolla”, às pacatas três horas e meia de sono, entre uma refeição da qual não reza esta crónica até à simpatia das hospedeiras de bordo (primeiro contacto com mulheres nórdicas bem acima do metro e oitenta).

Começa a descida para Helsinki-Vaanta e a primeira impressão é que todo o pais é formado por lagos, ilhotas, baías e abetos (o que não está muito longe da verdade). Desembarco e sigo entre a hesitação e a temeridade as indicações em finlandês e sueco até aos tapetes onde espero uns 10 minutos até aparecer a minha mala. Um dia (ou um post) farei um inventário sobre o que veio para cá, para ver se será o mesmo que volta...

Fatboy Slim – Right Here, Right Now

Saio do terminal para o Arrivals Hall 2, onde me aguardam duas horas de espera pela “Tutor”, a Johanna, que só me pode apanhar pelas 17h45, sendo que são 15h40... Penso em comer qualquer coisa no café, mas aliado ao preço proibitivo de 4,5€ por uma sanduíche, está o impedimento de nem sequer saber o que é que as ditas contêm. Isto porque os painéis informativos estão em finlandês e sueco. Gorada a hipótese sanduíche, atiro-me às bolachas perdidas pela mochila enquanto saco do Mac (Macbook, o meu portátil) e ponho-me a ver o Any Given Sunday, pela sétima ou oitava vez...

Recebo uma mensagem da Johanna a dizer que havia chegado. Procuro-a e encontro-a, justamente de acordo com a sua descrição: muito alta e loira. Conheço também o Alex (alemão) e o Chris (belga). Como as malas não cabem todas no Volvo da Johanna, eu e o Chris seguimos num táxi para o nosso bairro, Harustie, nos blocos 7. O taxímetro corre alegre até à bonita soma de 40 euros (mas devo dizer que nos cinco minutos que esperámos pela Johanna e o Alex, o taxista deixou correr – pouco próprio de um homem que ouve Bob Marley e reggae). Assim que finalmente eles chegam, a Johanna dá-me as chaves de casa e leva-me ao bloco B, onde encontro o apartamento 012, a minha casa durante os próximos meses.

Jack Johnson – Flake

Entro e conheço o Romain, francês de Grenoble e provavelmente o único rapaz aqui mais baixo que eu (ou até conhecer o Rodrigo, mexicano – mas já lá vamos). Digo o meu nome e imediatamente começa a perguntar se não é Diego. Pronto, já ficou. Entro no meu quarto, aprendo o truque das fechaduras e começo a desfazer as malas. Vou conversando com o Romain e fico a saber que no outro quarto (somos três neste apartamento) está um canadiano, o Guillaume, provavelmente a dormir, apenas e só porque são sete horas de diferença do Quebec para aqui. Hmm, um francês e um canadiano francófono... Aqui começo a pensar que vou ter que estar de 10 em 10 minutos a pedir-lhes para falarem em inglês. Mensagem para a mãe a dizer que já cheguei, chamada da tia a perguntar se tinha tudo preparado. Quando respondo que estou a desfazer a mala, pergunta-me se não tenho avião às seis. Eu digo que sim, mas que tinha sido às seis... da manhã. Risota, diz para eu desligar por causa do roaming, não sem antes serem mandados beijinhos para cá e lá. Sim, o lá agora é Lisboa... Depois de arrumadas as coisas, eu e o Romain vamos ao SMarket em frente a casa comprar qualquer coisa para jantar. Visto que temos esparguete, decidimos comprar a única coisa que sabemos o que é: hambúrgueres, pois tudo o resto está em finlandês e sueco. E nem sequer sabemos de que tipo de carne são os hambúrgueres – foi uma simpática senhora que nos traduziu a descrição; aparentemente, são de mistura de carnes. Ok, vamos a isso, são baratos.

Faço a cama e estendo-me nela... Quando dou por mim são 22h15 – hora de Helsinki. Visto que o Romain não sabe cozinhar (como é que é possível?) e o Guillaume ainda dorme, começo a fazer a carne e a massa. Nisto, o canadiano aparece e começa também a fazer a comida dele. Um sujeito um bocado calado e reservado, mas simpático. Jantamos, frugalmente, mas bem dispostos. Como só temos internet a partir de dia 1 de Setembro, o dia em que começa o contrato, recolho ao quarto e deito-me porque no dia seguinte muita coisa há para fazer.

Moby – Go

Esta é a música que tinha posto no Awaken para acordar às 7h20. Faço os meus 30 abdominais e vou tomar um duche. Como uns Corn Flakes e seguimos os 3 para o Metro. Na estação de Rastila (em finlandês) ou Rastbole (em sueco), compro um bilhete de 2 euros (!) e encontro o Alex e o Chris. Seguimos os 5 (e todos os outros estudantes que viajam em grupos) para Kamppi / Kampen. Entramos na Hanken e temos a sessão de recepção e boas vindas.

Tratamos das burocracias (pagamento da inscrição na SHS, matriculação oficial na Hanken, assinatura do contrato de alojamento, registo no Maistraati - género de Ministério da Administração Interna - de Helsinki ou Helsingfors) com almoço pelo meio. Depois de tudo isto, aproveito para enviar um mail para casa e fazer a inscrição nas cadeiras e exames. Após isto, eu, o Chris e o Alex e mais uns quantos alemães vamos em busca da Estação Central de Comboios para fazer o passe de metro e autocarro mas assim que saímos da Hanken começa a chover. Bonito, Goga, nem sequer trouxeste impermeável para cá – lembrei-me nesse preciso momento, e assim já tenho uma encomenda de Lisboa para pedir. Apanhamos um tram e não pagamos (bandidos!) e lá chegamos a Lasipalatsi ou Glaspalatset (Palácio de Vidro), onde fica a estação. Como a agência da HKL está totalmente cheia, vamos à de Itakeskus ou Ostra Centrum (sim, muito estranho) e em 15 minutos todos os 7 de nós temos um passe que nos dá direito a andar de autocarro, metro, tram e comboio na área urbana de Helsinki. O Chris pergunta, a gozar, se também dá para táxis e é a risada geral na agência. Vamos então para casa.

Bossa n’ Roses – Patience

Começo a escrever os primeiros posts antes que as ideias saiam da cabeça ou a velhinha Moleskine onde estão estes apontamentos dê de si, mas saímos para fazer compras – no Lidl de Itakeskus, a duas estações de casa. Chegados finalmente, sento-me para escrever estas últimas linhas e ficar apreensivo com o tamanho do texto (1627 palavras até aqui). Vou então fazer o jantar e depois vamos seguir para uma festa no bloco E – a primeira “house party”, cuja descrição ficará para um próximo post.